Mundo de Gente Grande

Posso jurar que não é invencionice,tampouco aquelas histórias de pescador..que sempre apanha um peixe enooooorme ,mas nunca tem testemunha do feito.

Que fique claro que também não posso provar nada !! Nem minha mãe se ainda vivesse poderia provar que lembro de tudo como aconteceu e não pelo que me foi narrado.Se é que algum dia alguem tocou neste assunto. Sei que tinha dois anos de idade...completos pois o meu irmão mais novo que eu este tantinho ,era ainda um bebê molinho que devia ter um pouco mais de dois meses. Meu tio avô Antonio Duarte ia casar a última das filhas E a festa prometia ser de arromba! Lá em Bom Jesus do Amparo quando se casava uma filha era assim. Dos preparativos pra viagem ,me lembro dos finalmentes. Um casal de eqüinos estacionados na porta da cozinha : Ele ,castanho garboso; ela ,elegante égua branca, destas com as extremidades escuras o que as tornam ainda mais bonitas.

Meu pai tratara de ajeitar e prender na cabeça do arreio um travesseiro vestido com uma fronha branca bordada de flores vermelhas e azuis.

Papai enfiado num terno de linho branco cavalgaria o castanho levando eu e Maria do Carmo acomodadinhas ali, sobre o travesseiro que tinha este próposito: nos servir de acento,enlaçadas pelos seus braços que seguravam as rèdeas.

Mamãe num *traje de gabardine verde ,montaria a égua branca levando nos braços o bebê. Naquela época acho , que possuir bons animais de cela era como possuir hoje um carro popular. Diferença que animal come capim e capim dá no pasto e não sobe de preço á mercê da variação do dolár,Só precisa mesmo é de um bocadinho de chuva. Do trajeto,das terras do Machado até Bom Jesus do Amparo ,lembro quase nada. : um córrego de águas cristalinas...um caminho atapetado de areia branca. Provavélmente dormi a maoir parte do tempo embalada pelos passos ritmados do animal e pelo sol que não fazia questão nenhuma de esconder a sua cara, atrás de uma nuvenzinha que fosse..

Da chegada, tambem não me lembro ! ... Mas lembro do casarão de janelas azuis:muitas janelas ;do terreiro da fazenda.,atulhado de gente e cavalos. Os *pelegos em tons de laranja ,amarelos ,brancos,sobre os arreios das montarias. E aquele zum zum zum sem tamanho. Me lembro que estava vendo a minha mãe com o bebê no colo,sentada num sofá de palhinha, na sala apinhada de convidados e parentes.

Depois as lágrimas..muitas ..em cachoeira, enquanto uma senhora batia ovos ,para finalizar alguma receita de última hora!!

Nem uma cara conhecida!

Da minha mãe,nem sinal,do meu pai, menos ainda!

E eu, sózinha ,no meio daquele mar de gente. Eu e o meu vestidinho vermelho de pintinhas brancas.

Minha tia , aquela mulher enorme,do alto dos seus gigantescos um metro e meio, se tanto ,surgiu do nada, me levantando do chão pro porto seguro dos seus braços. Com sua voz .inconfundivel me consolava,dizendo que ia me levar para o Papai..

Só quando ví meu pai, ali no engenho,ás voltas com aquela enorme tacha de tutú de feijão,sosseguei o" passarim "que esvoaçava e se debatia assustado dentro de mim.

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*Traje de montaria._Especie de saia-calça que asmulheres usavam pra cavalgar. numa época em que calças eram roupas só de homem.

*Pelego_ couro de carneiro colorido(ou não) Era posto por cima do arreio para dar mais conforto ao cavaleiro e evitar que o suor manchasse as roupas dos distintíssimos e elegantes ditos.