No tabuleiro da falsa baiana o chouriço frito com rodelas de cebola e pimentão esquenta sob o fogareiro de carvão.O cheiro forte e bem temperado aguça o apetite.
Os caminhões de peixe oferecem filé de pescadinha,camarão,lula,polvo e namorado:_ sardinha limpa pro gato,leva madame, 3 real a dúzia.
_vai limão aí, madame?
Laranja lima,banana prata,fruta do conde e jaca,maçã e pera fresquinhas em lotes. As sacolas vão ficando pesadas e os moleques oferecem ajuda.Um feirante mais ousado,não resiste:_ vai rosa, morena? Moça bonita não paga, mas também não leva.
A mocinha sai arrastando as sandálias de cara feia,vestidinho colado, alegre gingado, recebe assobios e gracinhas :_esta é a nora que mamãe pediu a Deus
_eu heim? não se enxerga? Responde bem alto.
A patroa ralha e critica o vestido curto demais expondo as pernocas roliças.A menina no fundo está adorando os elogios.Estabanada atropela uma senhora com o carrinho abarrotado:_tá cega minha filha?
É dia de feira.
Feirantes e freguesas se cumprimentam e regateiam.Uma provinha da melancia pra adoçar a boca e a vida.Uma banana a mais para o papagaio.
A hora da xepa também merece nota, gordotas senhoras, toalhinha suadas no decote, disputam as sobras quase derrubando os incautos. Donas de casa mal humoradas esperam acabar a balbúrdia e o caminhão de água lavar o cheiro podre.
Fim de feira. A garotada faz a laranja de bola brincando ladeira abaixo.O dia colorido termina.Semana que vem tem mais.
(revisado por Sonia Claro)