ZÉ SEM-RUMO

Na década de setenta, Gedeon pagava a um moleque de uns 15 anos de idade, para abrir as incontáveis porteiras por onde teria que passar para cumprir a pauta de fiscalização de empréstimos feitos pelo Banco do Brasil.

As porteiras eram, muitas vezes, apenas colchetes feitos com alguns fios de arame entrelaçados em varas e amarrados em dois mourões eqüidistantes. O colchete é removido sempre que necessário para dar passagem ao gado, veículos ou caminhões.

Assim é o tráfego entre as fazendas. Mas quando a passagem era feita através de uma cancela, José, o menino não sabia para que lado abrir e gritava: "Pra que lado Deeeon?" Isso lhe coube o apelido de Zé Sem-rumo, porque também lhe pesava uma gagueira que o fazia perder rumo da prosa.

Naquele tempo, eu era um bobo fumante. Agora apenas bobo. E então, já estava na calçada da rua para ir comprar cigarros no boteco, quando Gedeon se aproxima em seu jipe amarelo cor de abóbora e no lado do passageiro, Zé Sem-rumo com o braço de fora, deixando o vento fazer uma varredura nas axilas fedorentas de dois dias sem banho.

Dei sinal, Gedeon parou.

- Você vai agora para a república?

- Vou, por quê?

- Porque gostaria que você mandasse Zé Sem-rumo lá em Conceil, comprar um cigarro pra mim.

- Vai Zé, compra cigarro pra Piau e volta pra receber seu pagamento da semana.

- Aaaaooonde é pêuí?

- Lá em Conceil, comprar um maço de Hollywood

- Ummm maaaço de hooooooooo

- Pode deixar, Zé. Leve esse maço vazio e diga que quer um outro igual, mas cheio, porque este acabou.

Diga pra Conceil que mais tarde passo lá pra tomar uma cerveja e pagar o cigarro.

Zé Sem-rumo saiu e demorou mais de uma hora para percorrer um quarteirão e meio.

- Comprou o cigarro Zé?

- Commmprei.

- Por que demorou tanto?

- Foooi purquê Con on ceil peerguntô prá queem era o ciiigarro, aí eudiche que é pá, que éépápipi ééé pápiau. Eeee ele não sabia quem éeera, aí eu diche épapiau, epapiau que meeexe cumdeon. Piiiau é um raaapaz que meeexe cum Deon!

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