O Primeiro Caminhão

A história da chegada do primeiro caminhão, na minha cidade, era contada com riqueza de detalhes por muitas pessoas, e hoje, faz parte do seu anedotário. Eu a ouvia do meu pai, que tinha também a sua versão. Dizia que o fato aconteceu num dia de outubro de 1937 e que tudo começou quando, Antônio Clavinote, um homem humilde e de muita credibilidade, chegou de viagem e avisou que um caminhão da marca Ford se dirigia à nossa cidade, carregado de mercadorias para serem vendidas ou trocadas naquele lugar. Informou ainda, que o caminhão abria sua própria estrada no meio do cerrado.

A notícia provocou um alvoroço na cidade e tornou-se o principal assunto das conversas. Foi recebida com receio por uns e com entusiasmo por outros. Para muitos, o fato de que pela primeira vez um veículo motorizado adentrasse aquele lugar, prenunciava a chegada do progresso. Enquanto isso, algumas pessoas que nunca tinham visto um caminhão e nem sabiam direito o que era, ficaram assustadas. O prefeito aproveitou se da situação e preparou uma festa. comprou foguetes, enfeitou as ruas e até um hino para a recepção foi criado.

A espera durou pouco menos de uma semana. Ao ouvir um barulho, que julgou ser do caminhão, alguém com ouvido mais aguçado, gritou que ele estava chegando. Imediatamente, uma multidão entusiasmada, mesmo sem ouvir nada, saiu correndo na direção de onde supunham que o caminhão fosse chegar. Mães zelosas, com medo, botaram seus filhos para dentro de casa, fechando as portas e janelas, imediatamente.

Não demorou muito para o caminhão aparecer. Saiu de dentro do mato, roncando e soltando fumaça. Trazia no bico (capô) alongado, as folhas e capins, que arrancava do cerrado, enquanto fazia a estrada por onde passava. Seguido pela multidão o veículo ganhou a rua principal, deu uma volta pela cidade e se dirigiu para a porta da prefeitura onde ficou estacionado.

As pessoas, mais por curiosidade, do que com a intenção de comprar alguma coisa, formaram uma fila. Queriam apenas ver de perto e tocar o caminhão. O motorista, que vestia calça de brim cáqui e camisa azul de manga comprida, e seus ajudantes ficaram surpresos com tanta gente. O motorista desceu do veiculo sorrindo, cumprimentou a todos e depois falou:

- Venha gente! Venha conhecer um caminhão e aproveitar para comprar muitas coisas boas, bonitas e baratas que eu trouxe.

A festa se prolongou pela noite adentro, completando-se com um baile no salão da escola municipal. Durante toda à noite, ouviam-se foguetes e gritos de vivas ao progresso, marcando o começo de uma nova era para a cidade.

Na manhã seguinte, apareceram vários montes de capim e folhas em frente ao veiculo. O material fora colocado ali, por pessoas que, ao verem, na chegada, folhas e capins presos no bico (capô) do caminhão, pensaram serem aqueles, os seus alimentos preferidos.