Coisas de amigos...
Eles eram amigos desde sempre, pelo menos era a impressão que tínhamos do Antenor e do Carlão.
Sempre aprontando juntos, juro que só os vi rindo ou tirando sarro um do outro, ambos com familias grandes com mais de 7 filhos cada um.
Carlão e Antenor eram vendedores, que na época chamávamos de “viajante”; não sei exatamente o que o Carlão vendia, mas tenho certeza que vendia bem.
Antenor, também, como o amigo inseparável, era viajante da Brastemp...dessa eu me lembro, por causa de um baralho que ele presenteou meu pai.
A rotina desses dois amigos era sempre igual, final de semana em família, e na segunda, logo cedo, ali estavam eles no Bar do Geraldo, tomando o café bem cedo, e depois entravam juntos num fusquinha verde e pé na estrada.
Só retornavam à cidade na sexta, já noitinha, no mesmo ponto da partida da segunda.
Ali, antes de irem às suas respectivas casas, tomavam uma Brahma gelada, para tirar a poeira da garganta, e contavam aos outros os casos da semana, entre goles e gargalhadas.
Carlão, era uma figura maravilhosa, um homenzarrão de mais de um metro e oitenta e sempre acima dos 100 quilos, camisa mal colocada por dentro da calça, uma barriga empurrando a calça pra baixo, sorriso largo na boca, falava alto, tirava sarro de todos, mas não fazia mal a uma mosca, era muito popular, até por ser um mão aberta.
Antenor, baixinho, gozador, com algumas manias, e muito pão duro, segundo todos os seus amigos mais chegados, inclusive aqueles do baralhinho sagrado do sábado à tarde no clube.
Invariavelmente, quando chegavam, os outros perguntavam ao Carlão sobre o comportamento do Antenor durante aquela semana...e entre muita risada, vinha sempre a historia que ele tinha um escorpião em um bolso e uma ratoeira no outro...e assim por diante.
Numa bela sexta , lá pelas tantas, aparecem os dois voltando de mais uma viagem e, seguindo a velha rotina , o Seu Geraldo já foi logo tirando a Brahma do freezer, e os dois entraram como sempre, aos gritos e abraços.
Naquele dia em especial, o Carlão estava mais alegre.
Perguntado da razão, ele foi logo falando, que naquela semana aconteceu um milagre e ele não via a hora de chegar para poder contar aos demais...
Fez -se a roda para saber afinal o que de especial se sucedera.
-Vocês não vão acreditar...pela primeira vez em não sei quantos anos o meu amigo e compadre Antenor, não reclamou de nada,nem dos meus gastos e melhor ainda, não me deixou abrir a carteira...ele pagou todas as despesas da semana!!!
A turma incrédula, e boquiaberta ficou em silêncio sem poder acreditar naquele fato, que realmente seria em milagre.
Nisso o Antenor na maior calma do mundo, levou a mão ao bolso de trás, tirando uma carteira...
- Pois é compadre Carlão, foi bom você me lembrar...quando saímos daqui na segunda, sua carteira caiu do bolso e eu a guardei para você, mas como ela estava bem recheadinha, aproveitei e usei o dinheiro pras contas...pega ela de volta.
Continuaram amigos...e hoje devem se divertir muito lá no céu, provavelmente um roubando o outro...só de sacanagem!!