Conclave à Moda da Roça: a peregrinação sagrada dos vereadores de Cachorra Molhada
Em Cachorra Molhada — uma joia escondida no sertão do Tocantins, onde a maior atração turística é uma estátua de gesso da santa padroeira que já perdeu a cabeça duas vezes nas enchentes — os vereadores resolveram inovar na arte de viajar com dinheiro do povo.
A mais nova empreitada dos nobres legisladores? Uma comitiva oficial para Roma, para acompanhar o Conclave do Vaticano. Sim, exatamente: cinco vereadores, dois assessores, um primo emprestado e uma manicure (em caráter espiritual) pegaram o passaporte diplomático do “jeitinho brasileiro” e embarcaram rumo à Itália com tudo pago pelo erário.
Segundo o projeto aprovado em sessão relâmpago (que durou sete minutos e foi encerrada após a chegada da pamonha), o objetivo era “fortalecer os laços religiosos de Cachorra Molhada com o mundo católico e acompanhar de perto a escolha do novo Papa, uma figura de extrema importância para a comunidade local”.
Detalhe: dos cinco vereadores, dois são evangélicos, um é macumbeiro de estimação, outro nunca pisou numa igreja e o último achava que 'conclave' era o nome de um novo remédio pra pressão.
O pacote da viagem incluía:
- Hospedagem em hotel 5 estrelas com vista para o Coliseu ("pra manter o padrão das diárias da Câmara");
- Tour em museus e restaurantes — afinal, “conhecer a cultura local é parte do processo de espiritualização”;
- E claro, uma parada estratégica em Paris “por conexão técnica e necessidade de compras espirituais no Free Shop”.
Quando questionado sobre o real motivo da viagem, o presidente da Câmara, vereador Zé Pitoco, declarou:
"O povo precisa de líderes conectados com o mundo. O Espírito Santo não fala só português, não!"
Enquanto isso, na pacata Cachorra Molhada, a escola municipal segue funcionando em sistema de rodízio de cadeiras, o posto de saúde usa vela de sete dias por falta de energia, e a única ambulância da cidade foi vista puxada por uma carroça após quebrar pela décima vez.