A Invasão dos Pombos Psicodélicos

Era uma manhã aparentemente normal no Grotão — se é que existe isso. O sol mal tinha dado as caras e Pra Nada já tava no telhado, sentado como um mestre zen, encarando o céu.

— Cê viu? — ele disse, com os olhos vermelhos igual semáforo quebrado.

— Vi o quê, desgramado? — resmungou Passa Fome, saindo da casa com bafo de pinga e camisa do Vasco.

— Os pombos. Tão diferentes… tão brilhando!

— Brilhando? Cê andou misturando orégano com purpurina?

Mas não era só viagem de fumaça. Uma revoada de pombos coloridos — com penas fluorescentes e olhos esbugalhados — passou voando baixo sobre o bairro. Um deles parou bem na frente da dupla, deu três pulinhos sincronizados e gritou:

— CUCURUUU... e caiu duro no chão, soltando um brilho rosa.

— Bicho... esse pombo tá na frente do nosso tempo — disse Pra Nada, abaixando pra encarar a ave.

No Grotão, nada ficava estranho por muito tempo sem piorar. Em menos de uma hora, os pombos tomaram as praças, os fios de poste e até o campo de futebol. E o pior: eles começaram a *encarar* as pessoas. Olhavam fundo, tipo cobrador com raiva.

— Isso é praga, é mandinga ou é mutação de feira livre? — perguntou Passa Fome, desconfiado.

Uma vizinha disse que tinha visto uma senhora misteriosa vendendo “milho espiritual” na esquina da igreja. Outra jurava que viu um pombo rodopiando no ar, tipo Beyblade sagrada.

Foi aí que Pra Nada lembrou:

— E se... essa é a profecia da Velha do Baralho? Aquela parte que ela disse "as asas do absurdo cobrirão o céu do Grotão"?

— Puta que pariu… o Grotão vai ser dominado pelos pombos da nova era?

Com medo do apocalipse alado, os dois bolaram um plano: fazer um ritual de purificação no campinho. A receita? Fumaça, batuque e milho... muito milho.

Na hora do ritual, cercados por dezenas de moradores chapados de medo e curiosidade, Passa Fome gritou:

— Em nome de Jah, da fumaça e do baralho que nos guia: RECOLHEM SUAS PENAS, ESPÍRITOS VOADORES!

Um silêncio. Um grito. Um pombo cagou na cabeça de Passa Fome.

Mas, aos poucos, os bichos foram se dispersando. Sumiram como vieram. Sem explicação. Só ficaram as penas coloridas espalhadas, e o povo confuso.

— Cê acha que foi a fumaça ou o milho? — perguntou Pra Nada.

— Acho que foi o medo coletivo. E a minha gritaria também ajudou.

— Tá anotando isso no caderninho das aventuras?

— Já tá tudo guardado... na mente, ao lado da lista de larica.

Stoff Vieira
Enviado por Stoff Vieira em 18/04/2025
Código do texto: T8312052
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