Rush

Juliana corre. Atravessa a rua desesperada tentando não perder o ônibus que já deu partida saindo do ponto. Tropeça e cai no meio da rua. O semáforo estava aberto para os carros. O motorista do Uno, atento, freia com ruído parando a centímetros do corpo. O condutor do Gol que vinha logo atrás não teve tanta perícia e colide com o Fiat.

Da janela do quinto andar do prédio em frente Josué fuma um cigarro na janela da sala e observa tudo. Pensa em pegar o telefone e ligar pra emergência, mas percebe que alguns pedestres já estão fazendo isso.

O dono da banca de jornais (sim, ainda existem algumas) comenta com o vendedor de pipoca que parece que algumas categorias estão articulando uma greve geral. Um secundarista escuta de longe e faz anotações em seu celular. Um cidadão em situação de rua pergunta pro jovem o que é esse negócio de socialismo que ele escreve.

Juliana já foi atendida e nada de grave foi diagnosticado. Josué lê o xerox que um moleque estava distribuindo na banca da praça quando foi comprar cigarros, lembrou do tempos em que fazia faculdade e ainda tinha sonhos.

O motorista do busão tem um supervisor checando o relógio a cada minuto e não pode ficar para acompanhar a pequena cena.

Chuva cai e a tarde vai embora, lâmpadas de vapor de mercúrio tingem as calçadas do centro da cidade com um tom amarelado. Procuro o prólogo, um insight, uma levada jazzística pra concatenar as palavras e tentar colocar em ordem o pensamento numa forma mais ou menos linear e menos caótica.

Morcegos passam rasantes em revoada. Alguém faz o sinal da cruz. Um transformador explode num poste próximo e sigo caminhando com as mãos nos bolsos do paletó antes que a tempestade piore.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 15/04/2025
Código do texto: T8310188
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