SEU VICENTE

Seu Vicente nunca deixou de participar dos eventos e de ser pessoa notável em todos os locais aonde ia.

Pela sua urbanidade, incapaz de ser apontado como inimigo de alguém ou de se referir a quem quer que fosse sem acrescentar, meu querido amigo, foi sempre convidado de honra em todos os eventos. Batizados, primeiras comunhões, crismas, festas de debutantes, casamentos, reuniões de condomínios, muitas vezes serviu de acompanhante aos amigos internados em hospitais, visitava presídios e, infelizmente aos velórios desses onde nunca faltou o necrológio enaltecendo as boas qualidades do defunto por mais camumbembe que fosse, sempre carregados de emoção e que, invariavelmente, levava às lágrimas toda a assistência.

Este causo aconteceu no sepultamento do velho Raimundo, mestre da banda de música. Seu Vicente, como sempre, conversou com todos, puxou a reza do terço e organizou a vaquinha para comprar o lanche para todos.

Depois do sepultamento, seu Vicente foi no escritório para se despedir dos funcionários do cemitério e fez questão de agradecer a cada um deles pelos serviços e quando a Relações Públicas ao se despedir, disse seguindo o protocolo da profissão:

- Foi um grande prazer lhe conhecer, senhor Raimundo, tenha a certeza de que faremos tudo de melhor em seu retorno, que esperamos, seja breve.

Seu Raimundo com a cara de desilusão, perguntou:

- Oh! Minha filha, que mal eu lhe fiz para você desejar que eu morra logo?