Fizeram uma lavagem 'celebral' em meu coração

Fazia quase 60 dias que Amado Leal andava bebendo 70% menos que o habitual no “Nosso Canto”, bar que frequentava desde seus 20 anos. Esse ‘freio’ foi observado por colegas de mesa e confirmado por Romildo (Ildo), o proprietário do estabelecimento.

Ildo contou que Amado havia sido abandonado há uns 80 dias pela terceira vez. Explicando: esta seria a terceira ‘amada’ que o abandonava. A união com a primeira durou 13 anos; com a segunda pouco mais de nove anos e com essa última seis anos e sete meses. Isso nas contas de Celeste, sua esposa. Nenhuma delas teve filho com ele.

Foi num final de tarde chuvoso em que se fazia presente que Ildo e mais nove fregueses resolveram o interrogar. Eis o relato:

-Minha família não sabe porque Giovana e as outras duas me abandonaram. Mas nem eu sei. Querem ir? Podem ir! Queriam saber quanto tinha ganho no dia; porque o chuveiro não esquentava; se a fechadura da porta era segura e esse ‘Nosso Canto’ também entrou na história. Mas não chego a beber tanto assim e o seu Ildo taí de testemunha. A família me fez uma verdadeira lavagem ‘celebral’ em meu coração. Na verdade foram minhas três irmãs e duas cunhadas. Elas têm lá suas razões. Não tenho mais idade pra todo dia... Entenderam? O gole! E já me avisaram que não vai ser fácil arrumar outra por causa dos meus 50 e poucos anos. Que devo beber menos e ter mais vergonha na cara. Uma ‘lavagem’ mesmo. Tenho que me organizar!

Não houve nenhum questionamento em respeito ao semblante melancólico de Amado que, minutos depois, abandonou o recinto apesar da chuva.

O comentário irônico partiu da senhora Celeste que trazia salgados para abastecer a estufa.

- Lavagem celebral...! E suas unhas continuam cumpridas e sujas assim como suas orelhas e o pescoço. Imaginem o resto! Esses conselhos têm tanta importância quanto a buzina de avião. Que mulheres, em?

- Mas Amado sempre foi Leal, resumiu Ildo, seu esposo.