NO CASAMENTO DE TONHO

Estava tudo pronto para o casamento. Na igreja cheia de convidados e curiosos só faltava a noiva. Até o padre já estava todo paramentado num canto do altar circulado por um bando de beatas velhas enquanto trocava meia dúzia de palavras com o pai do noivo.

Tonho sentado no primeiro banco, estava com aquela cara de quem não está gostando nem um pouquinho de tudo aquilo que está acontecendo em sua volta. Entre os convidados, os seus amigos de farras com latinhas de cerveja semiocultas para não chamar a atenção do padre que, com certeza absoluta, daria a maior bronca, porque afinal igreja não é boteco para o cabra estar enchendo a cara.

De repente, o som dos instrumentos com a marcha nupcial de Wagner avisou que a noiva estava chegando. Todos levantaram-se dos bancos para ver do mais perto possível a beleza encantadora da mocinha em seu dia de glória, quando mesmo sem querer é a peça principal e a mais comentada da cerimônia.

Seria, se não fosse o escândalo que ocorreu no momento seguinte às palavras rituais do padre ao advertir – quem souber algo que impeça esta união, que fale agora ou se cale para sempre...

- Eu tenho padre...

Semioculta pela decoração daquele canto da igreja onde fica a pia batismal, uma jovem carregando um recém-nascido e ladeada por um casal de crianças cujo porte físico indicava serem gêmeos, adiantou-se e declarou com voz firme apesar da emoção mal contida:

- Tonho e eu somos casados há três anos e esses são os nossos filhos...

Em meio à confusão generalizada, ouviram-se gritos, choros, a mãe da noiva desmaiou, o pai dela deu uns tabefes na cara de Tonho e a noiva, num ímpeto decisivo, entrou no carro do pai e, em desabalada carreira sumiu das vistas de todos e até agora não se sabe para onde ela foi...