Histórias Contadas Por Vovó Tuta - Prosa e Poesia - 14 - Jaebé, o João-de-barro
Jaebé, o João-de-barro
Juca ficou cansado daquela história de joaninha. Viu um ninho de João-de-barro no galho de uma árvore; pegou um galho seco no chão e começou a cutucá-lo. Minha vó, imediatamente, perguntou:
- Por que está fazendo isso, Juca? Eles estão te fazendo algum mal?
- Não, vovó. Desculpe!
Juca baixou a cabeça, triste.
Vovó Tuta falou com ele para não ficar triste, pois ela ia contar uma lenda indígena muito bonita sobre esses pássaros.
Os índios contam que foi assim que nasceu o pássaro João-de-barro. Há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento.
O pai dela então perguntou:
- Que prova pode dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem Jaebé.
O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido. Então, declarou:
- O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum. Morreu no quarto dia.
- Pois eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Todos na tribo ficaram admirados com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova. Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse, nem fosse alimentado.
A jovem apaixonada chorava e implorava à deusa Lua que o mantivesse vivo. O tempo foi passando e, certa manhã, a filha pediu ao pai:
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
O velho respondeu:
- Ele é arrogante, falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
Esperou até a última hora do novo dia e ordenou:
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e tinha cheiro de perfume de amêndoas. Todos se admiraram e ficaram mais admirados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro, enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
Naquele exato momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta, onde desapareceram para sempre.
Podemos constatar a prova do grande amor que uniu esses dois jovens no cuidado com que o João-de-barro constrói sua casa e protege os filhotes. Os homens admiram o pássaro João-de-barro porque se lembram da força de Jaebé: uma força que nasceu do amor e foi maior que a morte.
E foi assim que nasceu a Lenda do João de Barro. Lindo, não!
Curiosa, perguntei:
- Vó, como o João-de-barro constrói sua casinha?
Com toda paciência, respondeu minha Vovó Tuta:
- Além de barro úmido, retirado do solo, a ave usa esterco misturado com palha. A casa é feita em conjunto pelo casal. Eles amassam as bolas de barro com os bicos e os pés e, aos poucos, vão montando a bela construção. São perfeitos engenheiros da natureza.
- Vovó, a senhora é a melhor vó do mundo! - falei.
Os olhinhos do Dodô, da Mona e do Juca brilharam e, juntos, com o gesto de balançarem a cabeça, concordaram.
- Imaginem, meus lindos! - disse vovó, meio sem jeito e sorrindo. Para disfarçar, vovó inventou uma quadrinha.
João-de-barro quer casar
E alçar ninho de barro
Junto com a noiva o lar
Para nele irem morar