JANELA INDISCRETA

(Sócrates Di Lima)

 

Era tardinha, o vento batia leve

Na janela entreaberta,

de uma casinha branca,

janelas azuis de madeira, 

e la dentro, 

numa cama larga,

coberta por uma colcha de retalhos,

e com os olhos fixos,

via-se naquela cama,

gemidos de amor.

Via-se naquela cama,

gritos de criancas,

tambem se via,

tantas lagrimas derramadas,

tantos risos  de namorados.

Por aquela janela,

tantas vezes se viu discussões,

as vezes tapas de raiva, intolerancia.

Tambem se via por aquela janela,

sobre aquela cama,

tantos beijos e  abracos,

chegadas e despedidas.

Daquela janela, a noitinha,

via-se juras de amor,

gritos de prazer,

gemidos de gozo

de casais  que se amavam.

Tantas chuvas,

tantos sóis por ela se via

e por ela entrava em raios de luz....

Naquela cama, acontecia

a mãe dando a luz um belo rebento, tambem de mamá para suas crianças,

foi o leito da vovó doente,

que um dia chegou sua vez e partiu depois da extrema unção

pelo Padre pedófilo.

Foi ali que naquela cama,

muitas orações se ouviam.

Por aquela janela,

viu-se a meia luz,

uma arma de fogo reluzente

e de sua boca um projétil

que transpassou o peito da amada

que nao quis mais amar aquele

que tanto lhe feriu.

Foi por aquela janela

que se viu a morte,

deitar e nunca mais se levantar. 

Foi por aquela janela indiscreta

que se viu a mulher de quatro 

sendo penetrada pelo seu amante enquanto seu marido, 

tinha ido pedalar, pescar

pilota sua moto pelas trilhas distantes com seus amigos 

deixando-a sozinha em finais de semana....

E foi por aquela janela,

que ela, tanto amou,

tanto gemeu, tanto gritou 

tanto manchou a colcha  de retalhos

com os semens do prazer enlouquecido.

Até que um dia, uma carreta desgovernada,

⁹avançou o sinal fechado e 

atravessou -a destruindo tudo

que sobre a cama acontecia,

e que dias depois,

aquela casa foi derrubada

e o que restou da janela arrancada, desmotada e nunca mais nada se ouvia, nada mais se via.

Naquele lugar foi construido um jardim

e onde havia a janela,

plantado um lindo pé de rosas

que na primavera floria

em vermelho e branco

e a noite,

uma fonte luminosa

foi erguida e suas luzes misturadas

com a agua do chafarix,

mudou totalmente aquele lugar

e nunca mais se viu a janela indiscreta,  fatal, que permitia penetrar

em um quarto sombrio,

onde uma cama coberta

com uma colcha de retalhos tantas historias foram escritas,

vistas e vividas entre alegria 

tragedias prazeres

e o amor que ali nasceu e ali morreu!

 

 

Socrates Di Lima
Enviado por Socrates Di Lima em 02/03/2025
Reeditado em 05/03/2025
Código do texto: T8276321
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.