A casa de Micaela Sousa
A casa de Micaela Sousa sempre foi um refúgio de tranquilidade. Enquanto a maioria das pessoas se lançava em festas, encontros e barulhos intermináveis, ela preferia o silêncio. Não que não gostasse de gente. Pelo contrário, era ótima para conversar, sempre disponível para ouvir, ajudar, compartilhar risadas. Mas, com o tempo, Micaela descobriu algo precioso: a melhor companhia que poderia ter era a sua própria.
Nos dias em que não havia compromissos, Micaela seguia um ritual quase sagrado.
Acordava cedo, abria as janelas para o sol da manhã entrar sem pedir licença e, em seguida, preparava um café bem forte. Sentava-se à mesa da cozinha, de onde podia observar o mundo lá fora, em sua rotina incansável. O vai e vem das pessoas, o som dos carros ao longe, as crianças correndo para a escola... Era tudo parte de uma cena que Micaela admirava com calma, sem pressa de se lançar nela. Aquele era o seu momento, um intervalo de paz em que tudo fazia sentido.
Para Micaela, a solidão nunca foi um fardo. Na verdade, ela sentia prazer em estar consigo mesma. Gostava de ler seus livros preferidos, de ouvir músicas que a transportavam para outros lugares, ou até de simplesmente observar a paisagem pela janela. Nessas horas, o mundo parecia mais nítido, como se os detalhes, tantas vezes ignorados na correria, finalmente se revelassem para ela.
Os amigos, claro, não entendiam muito bem. "Você não se sente sozinha?", perguntavam. E ela, sempre serena, respondia com um sorriso: "É quando estou sozinha que me sinto bem. Gosto da minha própria companhia." Eles achavam graça, talvez até admirassem, mas havia algo naquele estado de solitude que só Micaela compreendia por completo. Era uma sensação de inteireza, como se não precisasse de nada além de si mesma para se sentir completa.
Caminhar pela cidade era um dos seus maiores prazeres. Micaela gostava de sentir o vento no rosto, de ouvir o canto dos pássaros que insistiam em contrastar com o ruído urbano. O perfume das flores, o som das folhas ao vento, até o calor do asfalto sob seus pés faziam parte de uma sinfonia particular que ela adorava. Ao voltar para casa, não havia vazio. A natureza, seus pensamentos e a presença silenciosa de si mesma preenchiam todos os espaços.