O diretor e o pequi

Quando vinha a Goiás para visitar uma mina da empresa de mineração no interior do estado, da qual era diretor, muitas vezes, fazia suas refeições no restaurante da empresa, gostava de comida caseira. A primeira vez que comeu pequi apaixonou-se pelo seu sabor sem saber exatamente como ele era. Não podia morder, lhe ensinaram. Tinha que raspar o caroço com os dentes, para se proteger dos espinhos que a fruta continha. Adorou. Comeu de maneira tão voraz que começou a suar. Suou tanto, que as lentes dos óculos ficaram embaçadas. Só parou de comer depois de roer o último caroço de pequi do prato. Ele já estivera inúmeras vezes em Goiás, mas nunca havia experimentado aquela iguaria. Uma delícia! Queria conhecer o fruto. Trouxeram-no para ele ver. O pequi apareceu na sua frente; na sua forma natural, verdinho, brilhante. Olhou para aquela preciosidade, fixamente, com um sorriso abobalhado como que pedindo perdão por não o ter conhecido antes. E mentalmente, o fotografou em cada detalhe, contemplando as sinuosas curvas da sua casca verdolenga, para se lembrar dele quando o encontrasse.

Os dias se passaram e voltou para casa. Seis meses depois, estava de volta ao estado que passou a gostar como se fosse sua terra natal. Era início do verão. Tempo de pequi, foi o que lhe disseram. Fim de tarde, o sol esparramava-se intensamente sobre tudo e sobre todos. Pegou o carro, decidiu andar sozinho pela área da mineração. Sem muita pressa dirigia por uma pequena estrada, não importava se demorasse mais um pouco, observando a natureza. Gostava muito de poder presenciar tudo aquilo. Era como se pudesse ser transportado, mesmo que por apenas alguns instantes, para uma realidade diferente, um lugar em que não precisava se preocupar com a velocidade da vida urbana.

Na beira da estrada viu uns arbustos carregados de uns frutos verdinhos. Imediatamente, reconheceu era um pequizeiro. Podia parecer uma bobagem, mas o fato é que ele ficou excitadíssimo com as perspectivas de comer pequi no jantar daquele dia e no almoço do dia seguinte. Parou o carro e lançou um olhar analítico para as frutas esverdeadas que cobriam o arbusto. Não tinha dúvida, era pequi. Depois, como se dispusesse de toda a eternidade, desceu do carro e apanhou todos os frutos que pôde, e encheu o porta-malas do carro.

Quando chegou a sede, parou em frente ao restaurante. Chamou alguns empregados para ajudá-lo a levar para dentro os pequis que achara, precisava de algumas sacolas. O silêncio tomou conta dos funcionários quando ele abriu o porta-malas e tirou alguns frutos, dizendo que tinha encontrado um pé de pequi, carregado. Acompanharam-no com o olhar, quando suas mãos ansiosas iam tirando um a um os frutos de dentro do carro. Todos ficaram olhando, mas ninguém tinha coragem de falar. De repente ouviu-se uma voz, quebrando o silencio:

- Doutor, isto aí não é pequi é lobeira. Ficou calado, e um tanto envergonhado. Depois, com a dignidade que a sua posição permitia, mas, com cara de arrependido, mandou jogar no lixo todos aqueles falsos pequis