De natal
De natal (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
No relógio de parede da sala soava a décima badalada da linda e promissora noite vespertina de Natal. Dona Solange, muito bem trajada, com o vestido rosa e calçada com as lindas sandálias vermelhas, cobrindo a vestimenta o avental branco, com seu nome gravado, sobre a cabeça a toquinha branca, dava os últimos preparativos para a ceia natalina.
De família humilde, passou o tempo trabalhando ao lado do marido Pedro na fazenda dos Andradas. Lá, com o trabalho honesto, criou os três filhos e hoje são dois médicos e uma professora universitária. Assim que os dois se aposentaram, compraram uma casinha na cidade e lá vivem em plena felicidade.
A noite natalina é muito promissora para os dois, pois os filhos virão e com eles os seis netos estarão presentes. A casa é simples, possui quatro quartos, a sala, dois banheiros, a cozinha muito espaçosa e o quintal com plantação de árvores de jabuticaba, laranja e até o pequeno pé de goiaba. Mais ao fundo, o pequeno cercadinho de tela que são criadas algumas galinhas e o galo “Xavante” de raça indiana.
No forno elétrico, ela dá mais uma olhada no pernil que se encontra em fase de douração. Sobre o fogão, algumas panelas ainda soltam a pequena fumacinha de que está quase pronto o alimento. O arroz bem soltinho, com alho, o feijão preto em caldo, o tutu de feijão com torresmo, cebolinha de folha, salsa e pele de porco cozida, a macarronada com o molho bem vermelho, sendo coberta com queijo ralado e grandes e negras azeitonas, o lombo de porco fatiado, bem frito, acompanhado do molho de cebola, sendo ele curtido na lata de gordura, as saladas de alface, com limão, tomates e outros ingredientes, os pedaços de frango bem fritos. Sobre a grande mesa, o branco e saboroso bolo confeitado e feito por ela mesma, na parte da manhã. Também uvas, cerejas, ameixas, maçãs, peras, bananas e outras frutas dão a ornamentação.
A casa está toda iluminada. As luzes pisca-piscas estão envoltas da varanda, da janela e até mesmo do pequeno presépio armado sobre a mesinha, ao lado da televisão. Sobre a cadeirinha, o aparelho de som e nele são ouvidas as músicas natalinas, tais como “Os sinos de Belém”, “Noite Feliz” e outras mais.
Seu Pedro, meio debilitado, trajado da bermuda vermelha e camisa de malha branca, de barbas brancas e sobre a cabeça está o gorrinho vermelho, faz a representação de “Papai Noel”, está impaciente na sala. Sempre olha para o relógio e pensa que os filhos não virão, mas é animado pela esposa que diz que eles chegarão por volta das dez e meia da noite. Estão na estrada e combinaram chegar todos juntos.
Os minutos vão passando e seu Pedro escuta o som de veículos chegando e estacionando à frente de sua casa. Rapidamente, olha e vê que os filhos chegaram e vão descendo um a um.
Dona Solange, a esta altura, já colocou todos os alimentos sobre a mesa e estão todos prontos a saborear a simples, a singela, a perfeita refeição noturna, que muitos chamam de ceia natalina.
A primeira a entrar pela sala é Márcia. Com ela, estão o marido e os filhos. Dona Solange está ao lado do marido e a filha os abraça todos ao mesmo tempo. Logo vem o marido e faz o mesmo, acompanhado dos filhos. O segundo são os dois filhos, com as esposas e filhos. Todos querem abraçá-los ao mesmo tempo e quase que Seu Pedro vai ao chão. É momento de alegria, de paz, de amor, de saudade, de união, de fraternidade e de muitos adjetivos que definem o presente momento. Os celulares são postos em ação para fotografias, vídeos e outros mais.
Os anfitriões recebem seus presentes. Tem o presente do Paulinho, da Marcinha, da Joice e presentes para todos. Risos, lágrimas e a Dona Solange ganhou o novo celular, mais moderno e cheio de novas opções, que ela deverá levar um bom tempo para aprender.
Terminado o bom momento, todos vão se sentar à mesa para a ceia. Antes, fazem um círculo sobre a mesa e rezam. Agradecem a Deus por aquele momento, por aquele alimento e por todos estarem presentes ali. As orações “Pai Nosso e a Ave Maria” são rezadas por eles e com muita fé.
Assim, vão saborear a linda ceia simples, mas feita com muito amor. A casa é pequena, mas todos se acomodam como podem. Os filhos comentam suas vidas, relembram os bons e tristes momentos que passaram. Relembram a vida simples no campo, os dias que foram para a capital estudarem. Recordam do casamento, do nascimento dos filhos, dos batizados e coisas cotidianas da vida.
A noite para eles não tem fim. Já são cinco horas da manhã do dia de Natal e eles ainda conversam. “Xavante” canta no quintal e desperta a atenção deles. Vão todos ao quintal para verem as galinhas e o olhar confuso do galo. As crianças querem pegar e querem brincar com as galinhas. Assim amanhece. O café está pronto e todos bebem. Para o casal anfitrião, é o maior prazer receber os filhos, o genro, as noras e os netos.
O dia vai terminando e todos resolvem tirar aquele cochilo. Na manhã seguinte, é dia de irem para suas cidades. Então, prometem que estarão no próximo ano, no mesmo horário.
Nota do autor.
Desejo a todos um feliz e abençoado Natal. Natal de paz, de amor, de esperança, de fraternidade e de fé. Infelizmente, o tempo não para, ou seja, o tempo é a dimensão que não existe. Gerações vão, novas gerações vêm e outras gerações virão. Presumo que sempre haverá Natal. Hoje, é o dia de comemorar com a família, que a cada dia está mais destruída: pelos vícios do alcoolismo, da dependência química, da dependência eletrônica, das doenças de depressão, angústia, câncer, cardíaca, da violência contra a mulher, contra as crianças, enfim, a sociedade está a cada dia mais sendo depreciada. Que Deus, na figura Trina da Santíssima Trindade, derrame bênçãos, alegrias, saúde, paz, prosperidade, amor a seus filhos. O que mudará o mundo é a “Educação”. Assim, na simplicidade de meus textos, pretendo levar a todos a literatura, como fonte de saber, de conhecimento e de esperança à humanidade. Se gostou, compartilhe e envie a quem gostar. Obrigado e feliz Natal.