1215-A CAMISINHA
A CAMISINHA
Casemiro, um sitiante de poucas letras e menos tato para dizer as coisas, vivia em um sitio sem energia elétrica.
Para iluminar a modesta casa, nas poucas horas noturnas em que ele e a esposa permaneciam acordados, usava um antigo lampião a gás, conhecido então como LIQUINHO.
A luz do lampião provinha de uma telinha em forma de capuz pequeno, chamada de CAMISINHA DE LAMPIÃO, que ficava incandescente quando colocada sobre a chama do gás. Era uma tecnologia de há muito tempo atrás, mas que ainda funcionava bem nos distantes rincões do interior do Brasil.
No sábado passado, aproveitando a ida á cidade com a mulher para fazer compras do necessário no sítio, Casemiro foi até a loja de ferragens e artigos para a lavoura, onde eram também vendidas as tais camisinhas, que nada tinham a ver com aquelas que...bem, vocês sabem do que estou falando. Chegando à loja, foi atendido por uma moça, que, dando-lhe a preferência entre a meia dúzia de clientes que se encontravam no balcão, esperando a vez de serem atendidos, perguntou-lhe:
— Do que o senhor está precisando?
Casemiro, com seu vozeirão de homem acostumado a arrebanhar o gado com gritos e palavrões, foi logo falando:
— Moça, a senhora tem camisinha para liquinho?
A atendente levou um susto com a pergunta, corou até a raiz dos cabelos e muito sem jeito, gaguejando disse a um colega ao lado:
— Jo...João. atende esse senhor a,,,qui... não estou entendendo,,, o que,,, ele está querendo.
E assim, Casemiro, sem perceber o mal-entendido, aguardou pacientemente enquanto João, com um sorriso no rosto, o atendia e lhe entregava as camisinhas de lampião que ele tanto precisava,
ANTONIO ROQUE GOBBO
CONTO # 1215 da Série INFINITAS HISTÓRIAS
Belo Horizonte, 28 de outubro de 2024