O Campinho

Era uma tarde quente de verão, com o céu ainda tingido de azul, quando um grupo de garotos se reuniu na beira do campinho de futebol, localizado no final da rua de terra que serpenteava entre as casas de telhado de barro. O cheiro de grama recém-cortada e a poeira que se levantava a cada movimento se misturavam com os risos e gritos dos meninos, que não se importavam com o sol forte ou com os pés sujos de terra. Ali, o mundo parecia ser muito simples, e o tempo se resumia ao jogo, ao drible, ao gol e à amizade.

O campinho não tinha alambrado. Era apenas um pedaço de terra batida com dois marcos improvisados como traves: dois tijolos quebrados de um velho muro caído. As linhas do campo eram desenhadas com a ponta do pé, marcando o limite da brincadeira. Não havia uniformes, mas cada garoto usava a camiseta que tivesse à mão – algumas rasgadas, outras manchadas, mas todas cheias de história. Eles não se importavam com a falta de bola oficial, então improvisaram com uma bola de meia, amarrada com pedaços de corda, que rolava desajeitadamente pela poeira.

Os times foram formados.** Um grupo de meninos, mais ou menos da mesma altura, se reuniu e olhou com uma confiança juvenil para os outros, que estavam mais inclinados a rir do que a jogar. A competição ali era feroz, mas a amizade era mais forte. Não importava quem vencesse. No final, sempre havia a mesma certeza: ao menos por aquela tarde, todos seriam campeões. O futebol no campinho não era só sobre a vitória; era sobre o momento.

O Joel era o goleiro do time dos mais velhos. Ele tinha uma habilidade estranha de estar sempre no lugar certo, mas, quando estava fora do gol, se tornava o jogador mais desajeitado. Ele tinha medo de cair no chão duro e sujo, mas não tinha medo de defender com os pés ou com a cabeça. Seu time o adorava, e ele, apesar de tudo, adorava estar ali, com os amigos, sob o sol quente e no campo improvisado.

Do outro lado, o Luís era o atacante. Pequeno e rápido, com um toque de bola impressionante, ele parecia saber o que ia acontecer antes mesmo de a jogada ser feita. Seus olhos brilhavam de emoção a cada gol marcado, e até mesmo a cada drible que passava por entre as pernas do adversário. Era difícil não sorrir ao vê-lo correr, seus cabelos bagunçados pelo vento, como se estivesse em uma corrida contra o próprio tempo.

O campo era pequeno, e o jogo, com tantas falhas e trapalhadas, era um festival de risadas. A bola de meia sempre rolava para o lado errado, e os passes muitas vezes iam parar nas árvores ao redor. Mas o espírito da competição estava lá, pulsando mais forte do que qualquer jogo profissional, mais verdadeiro do que qualquer campeonato.

Cada gol era uma celebração. Não importava o jeito como a bola entrava – se fosse com um chute certeiro ou com um golpe desajeitado de Joel, o goleiro, que se jogava na frente da bola com mais coragem do que técnica. Todos corriam para o centro do campo, se abraçando e comemorando como se já tivessem vencido a Copa do Mundo. Os gritos de alegria ecoavam pela vizinhança, e, por alguns segundos, o mundo lá fora parecia ter parado.

O jogo seguia sem pausas. Quando alguém caía, não havia reclamação. O chute nas canelas, os joelhos ralados, eram só parte da diversão. Eles se levantavam e, com um sorriso no rosto, pediam para jogar mais. A energia era imbatível. Era a paixão pelo futebol sem pressões, sem regras rígidas, sem contratos ou patrocínios. Era o futebol de rua, puro e simples.

À medida que o sol se punha**, os meninos começavam a se cansar, mas a energia parecia não diminuir. Havia algo de mágico naquele campo improvisado. Era ali que eles eram livres, sem os problemas da escola, das expectativas dos pais ou dos desafios da vida. No campinho, ninguém tinha que ser alguém. Não havia "ricos" ou "pobres", "fortes" ou "fracos". Todos estavam ali com um único propósito: se divertir.

A partida foi se arrastando até o anoitecer. O céu, agora tingido de laranja, deixava os garotos ofegantes, com a respiração pesada, mas com os olhos ainda brilhando de entusiasmo. O jogo se aproximava do fim, mas ninguém queria que aquilo acabasse. Quando o último gol foi marcado, os gritos foram ainda mais altos, como se aquela vitória tivesse sido a mais importante de todas.

Ao final, todos se jogaram no chão, rindo e ofegantes, com os rostos sujos de terra e os corações cheios de felicidade. A bola de meia, agora desfeita e vazia, ficou ao lado, como um troféu simbólico daquela tarde. O futebol no campinho não foi apenas um jogo; foi um momento de pura alegria, onde o mais importante era estar ali, com os amigos, no coração do futebol verdadeiro.

E assim, enquanto as luzes da rua começavam a acender, e a noite tomava conta do pequeno bairro, todos sabiam que, no próximo dia, o campo estaria lá, esperando por mais uma partida, por mais uma tarde de sonhos e brincadeiras. Porque no campinho, o futebol nunca acaba.

Marton Costa
Enviado por Marton Costa em 07/12/2024
Reeditado em 07/12/2024
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