MARIA DE NAZARÉ MINEIRO

Era uma manhã ensolarada no Amapá quando Maria de Nazaré Sousa Mineiro acordou com a determinação que a acompanhava desde que pisou naquele solo fértil. Imigrante proveniente do Maranhão, Maria não era apenas uma mulher, mas um paradoxo que desafiava as convenções. Com suas mãos calejadas pelo trabalho duro, ela queria mais do que sobreviver; sonhava em transformar a vida dos que a cercavam.

“Triste sina, agora eu vou contar”, dizia a si mesma, enquanto olhava para as terras da União. A ideia de que aquelas terras não pertenciam a ela, mas sim a um sistema que se alimentava da miséria, a incomodava. “Aqui, neste Jarí, vamos construir a nova Canudos”, proclamava, unindo os vizinhos em torno de um ideal que parecia distante, mas ao mesmo tempo palpável. A fome não iria mais açoitar seu povo.

Maria falava em tom socialista, sua voz ecoava como um chamado à ação. “Vem com a tua enxada, vem cavar”, incentivava, mas a resistência não tardou a aparecer. Os grileiros, ameaçados por sua ousadia, começaram a arquitetar planos para silenciá-la. Porém, Maria não se intimidava. Sua crença na humanidade era mais forte que qualquer ameaça.

Os políticos, percebendo o movimento que se formava ao redor de Maria, tentaram atraí-la para suas fileiras. “Nós queremos te ajudar”, diziam, mas ela sabia que não bastava o dinheiro. “Quando promessas trazem infrações, não quero. Não basta só eu ou tu ganhar”, respondiam suas palavras, que se tornaram um mantra de resistência.

Maria fundou uma associação, um espaço de esperança em meio ao desespero, mas o governo se recusou a apoiá-la. Mesmo assim, a mulher determinada não desistiu. Foi falar com Conceição, que, tocado por sua luta, editou um decreto em favor das terras sem produção. Contudo, a resistência aumentava, e a política se tornava um campo minado.

No dia 16 de novembro de 1998, a tragédia se abateu sobre Maria. Alvejada dentro de casa, sua vida foi interrompida, mas sua luta não. O impacto de sua morte reverberou por todo o Estado. Seu filho, agora, assumiu o seu lugar, e as manifestações clamavam por justiça. Mas a justiça parecia uma miragem. O caso de Maria se tornava uma pizza, e os assassinos, protegidos por laços de amizade com o delegado, permaneciam impunes.

O sangue de Maria regou um movimento que crescia. Seus filhos marchavam, e a luta continuava. O prefeito cedeu um caminhão, e a boa vontade de Conceição se manifestava, mas a vontade do Estado era lenta e cruel. A juíza, ao transferir o caso, parecia brincar com o destino dos posseiros que lutavam por seus direitos.

Os conflitos se intensificavam, e a injustiça se tornava um grito ensurdecedor. Quando o padre veio visitar, a esperança de mudança parecia distante. Mas o povo, resiliente, fechou a estrada, exigindo ser ouvido. E, finalmente, um acordo foi alcançado, mas o caminho ainda era tortuoso.

Os documentos que deveriam garantir o assentamento de Maria eram constantemente adiados. A luta se arrastava, mas o povo não desistia. Outro prefeito entrou em cena, e a luta por justiça continuava, até que, por fim, o assentamento se tornou realidade e ganhou o nome de Maria.

Maria de Nazaré se despedia, mas seu legado permanecia. A justiça que não foi feita e a covardia que a tirou de cena ecoavam nas perguntas de seus filhos e netos. “Quem matou Maria?” A resposta era um eco na indiferença dos legisladores.

Maria merecia mais que um monumento. Ela merecia que seu nome fosse lembrado, que sua luta fosse honrada, que a história de um nordestino lutador fosse contada. E assim, a história da mulher que sonhava com um futuro melhor continuava a inspirar aqueles que, como ela, acreditavam na força da coletividade, na esperança de um amanhã onde a justiça prevaleceria e a luta pelo próximo nunca cessaria.