A morte de dona velha Bimba
A morte de dona velha Bimba
A mãe de Zé Bebinho estava com câncer em estágio avançado. Até que
finalmente chegou seu dia de pegar o trem que vai e não volta. O trem das
sete horas. A velha morreu. Dona Gertrudes, irmã de Zé bebinho, fez os
preparativos do velório. Foi um dos dias em que Zé Bebinho, não bebeu.
Zé bebinho não queria fazer sua mãe sofrer, mas fez. Ele bebia. Ele era o
cachaceiro oficial da família. Não que a velha fosse santa. A velha Bimba
teve dezoito maridos diferentes, Zé Bebinho tinha irmãos até no Paraguai.
Santidade é coisa de gente romântica que vive sonhando com papai Noel e
coelho da páscoa. Apenas os políticos são santos.
Zé Bebinho estava triste e pensativo. Lembrou de que ele era antes da
bebida. Ele era um menino alegre e bonito e que sua mãe sempre o levava
e o trazia da escola. Lembra-se dela como um anjo não perfeito, que
ninguém é perfeito. A gente é humano. Perfeito só o pré feito. Zé bebinho
teve uma infância muito boa. Sua adolescência foi muito boa. Casou se e
teve dois filhos homens. Era marceneiro e carpinteiro. Depois deu para
beber. Se separou de Creide e nunca mais viu os filhos. Dai se entregou a
bebida e foi morar nas ruas. Mas sua mãe sempre esteve ao seu lado. Todos
o abandoaram. Até Deus talvez o tenha abandonado, pensava ele. Mas sua
mãe nunca o abandonou. Mãe nunca abandona seja em porta de cadeia, em
hospital, em manicômio em qualquer outro lugar, sempre tem uma
mãezinha aguardando seu pimpolho. Zé bebinho parecia ser um novo
homem. Fez a barba e usou terno no dia do enterro. Não amiguinhos não
vos enganei. Ele apenas tirou um dias sem beber para recuperar o fígado
para depois voltar a afogá-lo em água ardente.
Quinze dias depois do enterro Zé bebinho voltou sua velha vida de
pinguço. Pau que nasce torto nunca se endireita diz o antigo e conhecido
provérbio popular. Filosofou ele sobre a morte como nunca, jamais
qualquer outro filosofo havia feito. Se filosofa melhor quando se está
embriagado. Como diziam os romanos “ in vinus veritas”