A Assinatura
A chuva caía incessante, tamborilando nos telhados de zinco e ecoando pelos becos escuros da cidade. No centro de um velho armazém abandonado, Edgar tremia, o suor escorrendo pela testa, apesar do frio que cortava como navalhas. Diante dele, uma figura envolta em sombras observava calmamente, um sorriso que beirava o sádico estampado no rosto pálido.
— Você achou que eu esqueceria? — a voz grave e sibilante soava como um trovão abafado.
Edgar tentou recuar, mas suas costas já estavam pressionadas contra a parede úmida. O cheiro de mofo e decadência impregnava o ar.
— Eu... eu preciso de mais tempo! — ele gaguejou, os olhos arregalados como os de um animal encurralado.
A figura inclinou a cabeça, como se ponderasse por um momento. Depois, deu um passo à frente, revelando olhos que brilhavam como carvões em brasa.
— Mais tempo? — a risada que ecoou parecia vir de todos os cantos do galpão. — O tempo foi um luxo que você desperdiçou no dia em que assinou aquele contrato, Edgar. Você sabia que o preço seria alto.
O homem tentou se justificar, a voz trêmula e desesperada:
— Eu não sabia que... que era real! Pensei que fosse apenas... uma metáfora, uma história para me motivar a alcançar o que eu queria!
A figura riu novamente, um som que parecia arrancar pedaços da sanidade de Edgar.
— Real ou não, você desejou. E eu cumpri. Fez de você um rei, Edgar. Fama, poder, riqueza... tudo o que pediu, eu dei. Mas agora... chegou o momento de pagar.
Edgar sentiu o peso das palavras como um punhal cravado no peito. Ele sabia que não havia saída, mas a paranoia e o medo o consumiam há semanas. Sonhos febris, visões de sombras nas esquinas, sussurros no escuro. Agora, tudo culminava ali, naquela noite fria e sem estrelas.
— Não pode haver outra forma? — ele sussurrou, a voz quase inaudível.
A figura abriu um sorriso ainda maior, os dentes brancos contrastando com as sombras que o envolviam.
— Você me pediu algo. Algo impossível. E eu concedi. Agora, é hora de sua alma impura vir para mim.
Edgar caiu de joelhos, lágrimas misturando-se à sujeira em seu rosto. Ele sabia que era tarde demais. Não havia bebida que afogasse seu segredo, nem fuga que pudesse salvá-lo.
A figura estendeu a mão. Em sua palma, o contrato assinado com sangue brilhava como uma sentença final.
— Mas se essa assinatura é sua... — a voz arrastada ecoou mais uma vez — ...a sua alma impura agora vem pra mim.
No instante em que Edgar tocou o contrato, um grito rasgou o silêncio. O armazém foi tomado por uma escuridão palpável, como se a própria luz tivesse sido engolida.
Quando o silêncio voltou, o espaço estava vazio, exceto pelo contrato, agora queimado, espalhado em cinzas no chão frio.
A chuva continuava a cair lá fora, como se o mundo ignorasse o preço pago por mais um desejo insensato.