Desde muito pequeno, aprendi que velórios são ocasiões muito sérias e tristes. Apesar de gostar muito desses momentos, sempre tive certo receio de que o morto se levantasse do caixão ou fizesse algo parecido. Em meados da década de 1990, um parente de uma amiga da minha mãe acabou supostamente falecendo após passar mal durante um almoço de domingo. Dizem as más-línguas, que ele comeu uma feijoada muito carregada, e depois disso passou mal, mas no interior, depois que as pessoas morrem, muitas outras procuram justificativas mirabolantes para tal. Nesse velório em questão, já era noite, e a família praticamente toda estava reunida na varanda do sítio onde o finado morava. Era noite de lua, ela estava clara e os grilos reinavam na escuridão sertaneja. Algumas luzes amarelas estavam acesas e no caixão estava o morto, esverdeado e com uma cara estranha. Durante a sentinela, a mãe dele rezava com a voz chorosa e o resto da família acompanhava a reza. Eu estranhei, nunca havia presenciado uma cena dessas, mas nada pude falar, era certo que qualquer piada que soltasse, seria motivo para uma pisa de mainha. Após algum tempo na mesma ladainha, um barulho estranho começou, algo que parecia uma tosse seca. Todos se olhavam para entender de onde vinha tal barulho. Quando ninguém mais sabia o que fazer, o defunto começa a se mexer no caixão e de repente se levanta, perguntando a todos o que havia acontecido. Nessa hora não sobrou em casa uma alma viva, a não ser o próprio finado, que após horas deitado, levantou como se nada tivesse ocorrido e foi para a varanda tomar café. Enquanto isso acontecia, os parentes estavam escondidos nas capoeiras, jurando a Deus e o mundo que nunca mais iriam num velório.

João Pedro Vitorino
Enviado por João Pedro Vitorino em 17/11/2024
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