“FIRMINO E FIRMEZA – A IMPORTÂNCIA DA 2ª VOZ”
Viva, viva, Firmino, Firmino. Te adooooro, lindão!
Mil e uma pessoas gritando desesperadas pelo nome de Firmino. Ah, havia sempre umas duas que gritavam pelo nome de Firmeza. Ele era a sensação das faxineiras. Dava inté artrógufu.
Essa foi uma dupla sertaneja que se formou há muito tempo atrás, em uma cidadezinha do interior de São Paulo. Vamos relembrar?
Firmino era garoto ainda, nasceu bem abençoado, e desde cedo já cantarolava em casa, pelas ruas da cidade e até na escola. Canções inventadas na hora, que sempre se referiam a alguma menininha. Era “meu amor pra cá, meu benzinho pra lá”, e elas ficavam derretidinhas pelo Firmino. Um dia, com a voz meio cansada ele recebeu a ajuda de um amigo. Era o Firmeza, um ano mais novo que Firmino, entrando em ação. Voz de tom grave, quase imperceptível, porém, o suficiente para, naquele instante dar continuidade ao pequeno show. Foi assim que a jovem dupla interiorana nasceu. E, ali mesmo, em frente à Escola Municipal “Vigário de Deus” – mesmo porque o dito cujo não poderia ser do Diabo né – firmaram um compromisso que seria para o resto de suas vidas – isso veremos. Ah, ali mesmo já podia se sentir a rejeição do público para com o Firmeza. Todas as mocinhas abraçaram e beijaram Firmino e nem olharam para o Firmeza. Mas ele não se importava, pois tinha Nércia, a sua cabrita; namorada e amiga que arrumou há muito tempo atrás; para falar a verdade, desde que o seu pensamento começou a enrijecer – pensamento foi legal não?
Nunca se separariam e estariam sempre, um de olho no outro. Proteção assídua, menos no que se refere ao assédio de fãs, é claro. Talvez esse tenha sido o maior erro do contrato de boca feito pelos meninos.
O tempo foi passando e, de boleia em boleia, Firmino e Firmeza tentavam se aproximar do sucesso. Era um baile na cidade vizinha, uma festa de casamento, e até algum concurso, mas a vida era difícil. Aos 23 anos, que Firmino contava, e Firmeza, com 22 anos, ambos já eram praticamente órfãos no mundo; seus pais já haviam falecido, e os irmãos, não acreditavam muito na fama da jovem dupla e acabaram por perder contato com eles.
Isso os entristecia, mas não os impedia de continuar tentando.
Certa vez, em um rodeio de médio porte, um desses caras famosos ficou admirado com o timbre da voz de Firmino e o convidou para um programa de rádio, no que Firmeza foi de rabiola – ninguém gosta muito da segunda voz, esta é a pura verdade.
Na rádio...E agora com vocês a nova atração da cidade; Firmino.................................................Firmeza esperou, esperou até que olhou de cara feia para o radialista que, sem ter outra escolha falou bem baixinho...............................Firmeza. E a dupla fez o maior sucesso. Tinha até um cara no orelhão em frente a uma construção distribuindo fichas e mais fichas para que a rádio repetisse consecutivamente a música cantada pela dupla – Porra meu, é brincadeira!
Eles acabavam de ingressar no rol da fama. Dias depois, um fazendeiro Gay, de uma cidade vizinha quis conhecê-los pessoalmente. Ficou encantado ao ver Firmino, rapaz de 1,80 de altura, cabelos pretos e cumpridos – estilo Jesus – e braços de pião. O fazendeiro quase desmoronou do salto – é, porque quem usa bota é macho. Já Firmeza, esse nem ao menos um aperto de mão recebeu. Baixinho que era, tinha um nariz tão grande que poderia comercializar pitucas para toda a molecada da cidade.
_ Entrem, entrem, e sintam-se à vontade. Quero conversar com vocês e lhes fazer uma proposta interessantíssima.
Firmeza ficou um tanto assustado, nunca tinha comido um gay antes; cabras e éguas sim, mas gay, ele achava que era pecado!
Firmino, já tinha comido alguns, mas esse era rico.
Resposta ao Leitor...Que merda viu, não é nada disso. O cara só queria mesmo era patrocinar a gravação de um CD da dupla.
Leitor...Ah, então é isso?
_Bom, senhores, como sabem sou um homem muito rico e pretendo dar uma oportunidade à dupla. Gostaria de firmar um compromisso; um contrato, para ser mais claro, e gravar o primeiro CD de vocês.
A alegria era imensa!
“É claro que, muito tempo depois, Firmino comeu o gay”.
Deram saltos – não, salto é de gay – deram pulos de alegria e gritos; Firmino em tom agudo e Firmeza em tom grave, e baixinho.
Abraçaram-se, e também ao fazendeiro, que adorou aquilo e não queria largar mais.
Contrato na mesa, garranchos e rabiscos no papel e tudo estava nos conformes. O primeiro CD da dupla “Firmino & Firmeza” seria lançado na próxima semana em um Show Sertanejo que aconteceria na cidade vizinha – Por quê as cidades são sempre vizinhas e nunca irmãs?
Na noite do show, um acontecimento inusitado, Miroslaia, simplesmente a mulher mais bonita da região e casada com o Coronel Fagundes Teixeira de Albuquerque e Carvalhal, estava entre os simpatizantes da dupla, e na primeira fila. O coronel ficara em casa tratando dos calos do pé. Ali percebíamos nitidamente uma grande diferença de idade. Fagundes Teixeira, como era popularmente conhecido, havia ficado viúvo a cerca de 25 anos. Nesta época já contava com os seus 55 anos de idade quando conheceu, nada mais, nada menos do que Miroslaia, que tinha apenas 15 anos, em uma dessas quermesses que sempre acontecem na cidade vizin....Ah, deixa pra lá!
Amor à primeira vista – por parte do coronel é claro. Fagundes Teixeira tratou logo de dar um gordo dote aos pais da menina com a desculpa de que a levaria para morar na fazenda e lá lhe daria o melhor dos tratos. Para os pais da menina, ótimo, uma boca a menos para alimentar; para Miroslaia, tudo bem, ainda ganharia uma boneca de presente.
Mas isso foi há 25 anos atrás. Hoje, Fagundes Teixeira já contava com os seus 80 anos de tosse e catarro verde que fazia questão de espalhar por todos os cantos em que passava, e Miroslaia, bem; Miroslaia, ainda estava em forma. Mesmo aos 40 anos de idade, ela ainda permanecia bonita como uma flor. Inúmeros produtos de beleza, três faculdades, algumas esticadinhas na pele e o que é mais importante; um “PERSONAL TRAINER” que só não dormia com ela porque o coronel não gostava de intimidades com homens.
O show começara, e como era de praxe, os gritos pelo nome de Firmino eram estridentes, e pelo de Firmeza, “entre os dentes”. Mas, a dupla se dava bem, nutriam um pelo outro um carinho de irmão. Até mesmo na hora da partilha tudo era repartido pela metade. Isso era um mau exemplo para as outras duplas, diziam alguns desafetos nos bastidores.
“E agora com vocês, mais um sucesso de Firmino & Firmeza”.
Naquele instante, Firmino percebeu o olhar ultra molhado de Miroslaia em sua direção, e a desejou mais do que tudo. Quando o show terminou, um bilhete em seu camarim revelaria a vontade que Miroslaia tinha de vê-lo.
Firmeza soube do que aconteceu e desaprovou, sendo severamente censurado por Firmino – o primeiro racha da dupla – que disse que nos caminhos do coração ninguém poderia se meter, nem mesmo ele, que era como se fosse um irmão.
O romance corria frouxo entre Firmino e Miroslaia, que participava de todos os shows locais e alguns na capital e em outros estados – aí ela dava folga ao “PERSONAL TRAINER”.
O caso era tão intenso que certa vez ela chegou a opinar para Firmino sobre a possibilidade de um CD solo, que ela teria o maior prazer de patrocinar.
_ Sério, você faria isso por mim?
_ É claro, meu amor. E tem mais, basta o velho morrer que a gente se casa.
_ Nossa, mas solo, e o Firmeza, onde fica nessa história?
_ Olha, eu não queria falar nada, mas o público não gosta muito dele. Acho até que vocês só não vão mais além porque ele está sempre ali, como se pendurado nas suas bolas.
_ Deixe-me pensar. Te dou a resposta amanhã.
Naquela noite, Firmino chamou Firmeza para uma conversa e comentou sobre a proposta que Miroslaia havia lhe feito. Firmeza quase teve um treco, ficou branco, depois amarelo, e depois, sentou. Suava feito boi no matadouro.
_ Mas, Firmino, nós prometemos nunca nos separarmos.
_ Promessa de criança. Veja Sandy & Junior, até eles se separaram.
_ Eu não gosto dessa idéia. Miroslaia se meteu entre nós e...
_ Lave a boca para falar de Miroslaia, ou eu te parto a cara.
Pronto...Tudo acabado...Cada um para um lado.
Em três meses Firmino, já com outro visual, fazia a sua “Carreira Solo”. Ah, o fazendeiro gay, também gostou daquilo e convidou ambos, Firmino e Miroslaia para um jantar, com o Coronel Fagundes, é claro. Foi nessa noite que Firmino comeu o Gay, após muito vinho e uma profunda tristeza em saber que, ao posar ali, Miroslaia dormiria com o marido.
O dinheiro era capim para Firmino, já Firmeza, bem, este voltara para a plantação de tomates – Caracas, essa eu também já conheço!
Sempre que podia, via as apresentações do amigo.
Certo dia, concorrendo a um ingresso para ver Firmino no camarim, oferecido pela rádio local, Firmeza foi o sorteado e estava disposto a reatar a amizade com o amigo.
Colocou uma roupa bem a caráter; ainda tinha alguns trocados que guardara da última turnê.
As coisas para Firmino andavam de vento em polpa, porém, Fagundes Teixeira já desconfiara a muito da traição da mulher com o rapaz. Certo dia, num desses jogos de cartas, foi insultado por um jogador da capital que o chamou, dentre outras coisas...DE CORNO. Fagundes Teixeira levantou-se e arregaçou o bucho do pobre coitado com a sua faca de pião – presente de um vaqueiro norte americano que jurava ser da família de Clint Eastwood.
Aquilo foi demais para os ouvidos do coronel, que em seguida mandou desovar a carne e avisar o delegado que não haveria boletim de ocorrência.
Ele tinha um plano, pegaria aqueles dois famigerados no flagra e não daria trégua. Tudo seria acertado na noite do show.
E chegou a noite do show.
O público delirava e clamava por Firmino, que naquela altura já estava entre os mais cobiçados cantores da música sertaneja.
De repente, com prévia autorização da segurança e dos encarregados do show, Firmeza bate na porta do camarim de Firmino que, ao abri-la levou um baita susto.
_ Você por aqui?
_ Sim, meu amigo, ganhei um concurso para vê-lo no camarim e resolvi acertar as contas com você.
Nesse exato momento, Firmino gritou pelos seguranças.
Firmeza ficou perplexo com a atitude do ex-amigo e pediu calma a ele dizendo que ali estava apenas fazer reatar os laços amigáveis.
O mal entendido foi desfeito e os seguranças dispensados. A amizade também voltara com algumas exigências. Uma delas era a de que não havia mais lugar para Firmeza ao lado de Firmino; a outra, e essa assustou Firmeza, era que ele nunca mais poderia dizer por aí que tinha feito dupla com um grande e famoso cantor sertanejo.
Firmeza chorou, um choro sentido, e despediu-se do amigo. Ao sair, esbarrou em Miroslaia que o olhou de soslaio, esboçando um sorriso cínico de vitória; esbarrou logo em seguida em um homem e sem querer passou próximo ao palco, no que foi reconhecido por alguns fãs da ex-dupla.
...Olhem lá, diziam alguns, é o Firmeza e acho que vai cantar!
Mas espera aí, Firmeza havia esbarrado no Coronel Fagundes Teixeira de Albuquerque e Carvalhal, que nunca havia estado em um show sequer. Aí veio o estalo – ia dar merda. Correu de volta, mas já era tarde. Miroslaia nos braços do coronel aos prantos e pedindo perdão, e o amigo, caído no chão com as tripas de fora.
Como se sugasse todo o ar ao seu redor – não pelo narigão – Firmeza pôs-se a gritar por ajuda.
_ Aqui, aqui...Firmino...Firmino...
Todos do lado de fora ouviram a sua voz e a reconheceram. Estava de volta a dupla, pensavam eles, com Firmeza melhor do que nunca, e começaram a gritar – Firmeza, Firmeza. Foi a primeira vez que Firmeza fez sucesso sozinho.
_ Ajudem aqui...Ajudem aqui...
Nisso o coronel e a mulher já haviam se retirado do local e deixado por ali a arma do crime – Que arma? A mesma faca dada a ele pelo parente do Clint. Quando o socorro chegou, a cena era a seguinte; Firmino caído morto nos braços de Firmeza, que a essa altura, já estava todo melecado de sangue.
Com o socorro chegaram também a polícia e o fazendeiro gay que, ao presenciar aquela cena bizarra gritou aos uivos...ASSASSINO “UI”...
De nada adiantou as explicações de Firmeza, que foi a julgamento e pegou 17 anos de cadeia. O juiz também era fã da dupla, mas preferia ouvir apenas Firmino. Porém, entendeu naquele momento, após ouvir as testemunhas que nada viram, mas escutaram os berros de Firmeza, que ele tentou socorrer o amigo.
A sentença foi proferida mais ou menos assim: Diante dos fatos narrados, sentencio o réu a 20 anos de prisão em regime fechado, mas atenuo a pena em 03 anos por entender somente agora a importância da segunda voz em uma dupla sertaneja, pois somente os brados do réu, em tom grave, é claro, é que chegaram aos ouvidos dos seguranças que providenciaram socorro imediato, sem muito a fazer no local – e bateu o martelinho...Todos adoravam essa parte.
Acabara de acabar a trajetória de uma promissora dupla sertaneja!
O desfecho dessa história?
Miroslaia já estava grávida de Firmino, e esperava gêmeos, filhos posteriormente registrados pelo coronel. Ela ainda teria outros dois filhos de um pião da fazenda, mas isso é outra história.
A dupla, que ficou na saudade do povo ainda vende algumas camisas e CDs, canetas e chaveiros, e o dinheiro vai para a “Fundação de Amparo à 2ª Voz – Firmino & Firmeza” presidida por um irmão de Firmino, que apareceu do nada para reclamar os direitos do falecido. Ela não é registrada, mas recebe auxilio regular de uma cooperativa de políticos da região na época das eleições – Lavagem de dinheiro? Foi você quem disse!
Ah, Firmeza aprendeu a conviver com os detentos e se saiu bem; era autor de muitas modinhas de viola e escrevia cartas para aqueles que não tinham o dom. Também cantava nas festinhas organizadas pelos internos; e se amigou. Com quem? Bem, o fazendeiro gay achou toda aquela história muito intensa e se condoeu de Firmeza, fazia-lhe visitas regulares até que um dia o beijou; e veio a descobrir muito em breve que o dele era maior. Passou a falar aos quatro cantos do mundo que gostava mesmo é de Junior, Luciano e Renner, porque eles é que davam vida as duplas.
Ele dizia assim:
Gente, “UI”, vocês não sabem de nada...Eu é que sei a importância da segunda voz! Eu estava lá.
Moral da história? Não tem. Ah tem sim, “A UNIÃO, NÃO FAZ SÓ A FORÇA; FAZ FILHOS, MÚSICAS SERTANEJAS, CORNOS E OUTRAS COISAS MAIS. FIRMEZA, AGORA ENAMORADO, QUE O DIGA”! AH, AH, AH...