POMBO CORÊIO

 

 

À tardinha quando com seus raios dourados, o sol passava as ultimas lambidas pelos montes, ouviam-se, estampidos provocados por armas de fogo-. Eram caçadores, no entorno da palha da roça de milho. Que escondidos em choças de ramos improvisados, abatiam as pombas selvagens.

Varrendo o terreiro da palhoça, a camponesa acompanhava com o olhar a chegada do marido descendo pela trilha, com uma galhada seca no ombro. Um procedimento habitual. Ao voltar do trabalho, ele sempre trazia a lenha que seria consumida no dia seguinte.

Minutos após enquanto a esposa preparava o jantar, o colono aparava de machado a lenha que trouxera. Mais alguns estampidos são ouvidos. De repente uma ave borboleteando atordoada cai bem no meio do terreiro. Era um pombo correio, que por infelicidade passara sobrevoando os caçadores e foi atingido por estilhaços de chumbo. Tentaram socorrê-lo despejando água no seu bico, si quer deu tempo de engolir estava morto. Imaginando se tratar de uma ave silvestre preparou água fervente para depená-la.

Percebeu-se então, que havia um pequeno tubo amarrado a sua perninha, dentro um envolto de papel, era um bilhete. Eles que jamais souberam da existência e utilização de pombo correio, imaginaram se tratar de algo sobrenatural. Aprenderam que o Espírito Santo é representado por um pombo. E agora? - Não sabiam ler! Mal conheciam os números no calendário que tinha na parede de seu casebre, presente do comerciante onde efetuavam suas compras, sabiam apenas que os números vermelhos determinavam os domingos e feriados. Nada mais. Decidiram que levaria o bilhete ao pároco seu confessor, já que em breve teriam que ir as compras na cidade. Nada comentaram com os colegas de trabalho. Levaram-no ao padre, que os explicou da existência e utilização de pombo correio como mensageiro, afirmando terem agido corretamente. Voltando ao seu habitat, nada comentaram como recomendara o orientador espiritual.

Dias após lembraram, esqueceu de perguntar ao padre o que dizia o bilhete. Voltaram correndo para a cidade. Encontraram-na em polvorosa.

Viaturas por toda parte, policiais armados até aos dentes, um grande alvoroço. Foram ter-se com o pároco, que explicou: o bilhete era de uma quadrilha de assaltantes confirmando aos comparsas o momento exato que assaltariam a centenária catedral da cidade, onde pretendiam roubar o grande acervo de obras sacras, um valioso tesouro, recém tombado como patrimônio histórico universal. E como o Espírito Santo se faz representar por um pombo, quisera Deus que eles como instrumento de sua vontade impedissem tamanha barbárie. A polícia agiu com prudência, os bandidos foram presos. E o casal recebeu uma boa recompensa, inclusive um professor que os ensinou a ler e escrever. E assim puderam constituir sua numerosa família, com dignidade, e abençoado pelo Divino Espírito Santo.

 

  obs:2ª publicação

 

(foto o Google)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/11/2024
Reeditado em 11/11/2024
Código do texto: T8194386
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