Beré: O peixe dourado que habitava o Ribeirão da Piabanha
Há muito tempo, antes de Piraúna receber esse nome, havia um pequeno povoado chamado Cágados, onde corria um rio chamado Ribeirão da Piabanha. Esse rio era especial, com águas tão claras e limpas que refletiam o céu e as árvores ao redor como um espelho. Todos diziam que essa pureza vinha de um peixe dourado chamado Beré, que vivia ali desde tempos antigos.
Beré não era um peixe comum. Seu brilho dourado iluminava as águas, e onde ele nadava, a água se tornava transparente e cristalina. Diziam que Beré tinha o poder de limpar o rio, tornando-o uma fonte de vida para todos que viviam ao seu redor. Os moradores do povoado respeitavam e protegiam Beré, pois sabiam que ele era um presente mágico — ou melhor, um presente divino, um verdadeiro tesouro da natureza.
Mas, um dia, um caçador de terras distantes chegou ao povoado de Cágados em busca de oportunidades em uma fazenda de cacau, fruto que era a riqueza da época. Ele ouviu histórias sobre o peixe dourado e seu brilho mágico e logo viu ali uma chance de ganhar fortuna, acreditando que poderia capturá-lo e vender seu corpo dourado para enriquecer. Mesmo com os avisos dos moradores, ele decidiu caçar o peixe Beré, ignorando a importância que ele tinha para o povo e para o rio.
Numa noite escura, o caçador se escondeu perto do rio, esperando o momento em que Beré surgisse. Quando finalmente avistou o brilho dourado nas águas, ele atirou e capturou o peixe mágico. Beré tentou escapar, mas o caçador foi mais rápido e o tirou do rio, ignorando o último olhar triste do peixe, que parecia pedir para ser libertado. Beré se desfez e evaporou como espuma ao vento.
No instante em que o peixe Beré deixou o Ribeirão da Piabanha, algo estranho começou a acontecer. As águas, antes tão límpidas e claras, começaram a se turvar. A transparência foi se desfazendo, e o brilho que Beré deixava em seu rastro desapareceu. A correnteza perdeu seu encanto, e a vida no rio mudou. A água ficou escura e sem a magia que antes encantava a todos.
Quando os moradores souberam o que havia acontecido, ficaram profundamente tristes. Sentiam que haviam perdido algo valioso e insubstituível. Dizem que, desde aquele dia, o Ribeirão da Piabanha nunca mais foi o mesmo. A água do rio permanece turva até hoje, como se guardasse a tristeza e o silêncio deixados pela perda de Beré.
E assim, os mais antigos, como Dona Lurdes, Seu Antônio Grande, Dona Meire, Dona Zelonita e outros, contam a história de Beré, o peixe dourado, para que todos se lembrem de respeitar os mistérios sagrados da natureza e de valorizar o que ela nos oferece.