LIções Culturais
Dois amambaienses endinheirados, filhos de fazendeiros, se adaptando e gostando das maravilhas tecnológicas que o mundo oferece, largaram o rincão natal e se aboletaram rumo à cidade paranaense de Maringá, a fim de comprarem duas camionetes – uma para cada um – numa feira agropecuária que acontecia naquela cidade. Realizado o negócio, pagaram em dinheiro vivo, que tinham levado dentro de um alforge, e, resolveram passear no shopping center da cidade.
Os viventes eram Aparício Raposo Tavares e Gentil da Silva Cunha, ambos beirando os quarenta, achavam que já estava no momento de aproveitar mais a vida, depois de tanta labuta com o gado. Se encantaram com o tal shopping center, principalmente com as moçoilas pra lá de faceiras e bonitas que nunca tinham visto coisa igual neste mundão de meu Deus.
Bueno. Acontece, que neste shopping estava ocorrendo uma apresentação de capoeira, com transmissão ao vivo pela TV e tudo. O repórter da Tarobá, ao avistar aqueles dois vaqueiros, vestidos a caráter, bota, calça apertada, fivelão, camisa xadrez, panamá na testa - diz que tiveram que tirar as esporas porque o segurança falou que iam riscar o mármore - resolveu entrevistá-los. Aparício o mais atrevido, já pulou na frente, bateu no peito, e disse.
-Pois pergunte.
O repórter apontando para os capoeiristas que gingavam na base do ziriguidum, lascou.
- O Senhor gosta de esporte?
- Como não ? Amo o esporte, no meu tempo, nóis não perdia um jogo lá no Milionários, era eu, o Kikito, o Paulinho, o Abílio, o Vave, o finado Rubinho, o Galego e o Nego Rui, que até já jogou no Grêmio, junto com Paulo César Carpegiani e o Felipão e até hoje dá uns conselhos pra eles. Nóis arrasava, era de 4 pra cima.
Já meio desconfiado, o repórter continuou com seu ofício:
- E de capoeira, o senhor gosta?
- Óia, pra dizer a verdade, eu e meu pai não gostamos muito não, dá muito berne na éguada, fica ruim pra achar as vacas, mas o seu Oraci, nosso vizinho, esse gosta, adora, o senhor pode ir lá, é um capoeirão que só.
- E de Karatê?
- Hum, hum – com ar superior de quem vai herdar muitas terras - é muito melhor o cara têr, do que o cara não têr, o senhor não acha???
Atônito, o repórter resolveu dar uma “dura” em Aparício.
- O senhor não tem muita cultura, não é mesmo???
- É não tem, não tem não – cutucando o parceiro – vai lá no Rio Verde então, vai conhecer minhas terras pra ver o culturão que é, se aquilo não for cultura, o que que é então. Bicho burro. O repórter desistiu da empreitada...