RAÍZES DE UMA GUERRA

Na pequena cidade de São Esperança, a Igreja Babel erguia-se majestosa, um símbolo de diversidade e inclusão. Seus membros, de todas as raças, etnias, graus de escolaridade e classes sociais, congregavam-se todos os domingos, formando uma comunidade sólida e afetuosa. A união era tão forte que, nas dificuldades, os irmãos se amparavam mutuamente, oferecendo ajuda em momentos de doença e necessidade. Era um lugar onde a fé prosperava, livre de preconceitos e divisões.

A harmonia, no entanto, começou a ruir com a chegada do pastor Mandacaru, que substituiu o carismático pastor Oliveira. Mandacaru, inicialmente bem recebido, começou a implementar reformas que, embora pequenas, descontentaram alguns membros. Apesar do desagrado, a congregação respeitava sua autoridade. Com o passar do tempo, no entanto, suas atitudes tornaram-se mais polêmicas. Ele impôs restrições à participação de irmãos LGBT nas atividades da igreja e começou a privilegiar aqueles com maior poder aquisitivo, criando uma clara divisão.

As tensões aumentaram quando Mandacaru declarou apoio a um político local, algo que a igreja nunca fizera antes, resultando em um racha profundo entre os membros. De um lado, os que apoiavam o pastor Oliveira, e do outro, os que se uniram a Mandacaru. A discordância rapidamente se transformou em uma disputa acirrada, que extrapolou os muros da igreja e invadiu as redes sociais.

Ambos os pastores passaram a se atacar, com Mandacaru acusando Oliveira de ser a favor de ideologias de gênero por permitir a participação de irmãos LGBT. Por outro lado, informações distorcidas sobre Mandacaru começaram a circular, insinuando que ele usava os dízimos da igreja para fins de prostituição. Essa desinformação alimentou ainda mais o ódio entre os grupos.

No meio desse cenário de polarização, a pandemia de COVID-19 chegou e, em vez de unir a congregação, aprofundou as divisões. Mandacaru utilizou os recursos da igreja para ajudar, mas favorecendo seus aliados, enquanto os seguidores de Oliveira se sentiam marginalizados e deixados à própria sorte.

Os conflitos chegaram a um ponto insustentável. As discussões tornaram-se agressivas e os membros viviam se alfinetando, xingando-se e denegrindo-se nas redes sociais. Mandacaru começou a distorcer textos bíblicos para justificar suas ações, enquanto Oliveira tentava refutá-los, mas a alienação já havia tomado conta de muitos.

Foi nesse clima de ódio que o irmão Cacto, fiel a Mandacaru, sugeriu eliminar os irmãos de Oliveira. O plano era alterar o estatuto da igreja e encontrar falhas nos membros do grupo opositor. Com o apoio de Mandacaru, Cacto iniciou uma campanha de arrecadação de dízimos, prometendo prosperidade em troca de contribuições.

Enquanto isso, Oliveira, com o apoio dos irmãos LGBT, começou a montar sua própria estratégia. As disputas se intensificaram e, ao longo de sete anos, a Igreja Babel se desfez. O que antes era um lar para muitos tornou-se um campo de batalha, onde processos e calúnias se tornaram comuns. A perda foi imensa, e alguns membros foram presos, vítimas de suas próprias escolhas.

A desilusão tomou conta de muitos. Aqueles que um dia acreditaram que a igreja era um refúgio agora viam que seus pares não eram diferentes de quem não frequentava a igreja. A política, a religião, a sexualidade e a polarização haviam corroído os valores que sustentavam a comunidade.

A Igreja Babel, que um dia foi um farol de esperança e inclusão, tornou-se um triste exemplo de como a divisão e a intolerância podem destruir até os laços mais fortes. E assim, em meio a tanta desavença e desesperança, a cidade de São Esperança viu a luz da fé se apagar, deixando apenas sombras do que poderia ter sido.