Um Velório quase louco

Vida e morte são coisas tão próximas...Um está ligado ao outro, um depende do outro para existir. E dessas duas coisas irei contar a história que eu vivi há uns tempos atrás. Meu querido tio um dia faleceu, era tio segundo, vi-o poucas vezes, mas quando eu o vi percebi que ele era uma boa pessoa, falava pouco e sempre sereno...Quando se soube da morte dele foi uma comoção. O pessoal daqui de casa com mais alguns parentes arrumaram uma veraneio do vizinho e viajaram até a cidade pequenina que ele vivia.

Viagem longa, saída enlutada como a madrugada implacável. Mas, como sempre nasce um novo dia, o ar de choro se tornara mais calmo dentro daquele carro, com direito até de uma prima minha de mais idade “brigar” com o vizinho que dirigia o carro sobre as ações do mais novo presidente do país.

Chegando lá, cidade quase que parada. Entramos na rua dele que era meio periférica. Paramos na porta da casa. Miudinha, bem apertadinha. O esquife tomava conta da sala. Até na hora da morte o rosto do tio estava sereno...Já a minha tia chorava junto com as “irmãs” e “diaconisas” da igreja. A rua era carregada de protestantes.

O velório transcorreu normalmente, choros, exaltações a figura do nosso titio por pessoas das quais eu percebi tiveram pouco contato com ele, a causa mortis e outras coisas...

Eu saí um pouco da casa junto com meu pai, fomos até o “centro” tomamos um suco e comemos um salgado qualquer. Ao chegar de volta, a casa começa a se tornar pequena para tanta gente. O pastor acabava de chegar, faz algumas orações e prega. Inclusive durante a pregação ele tentou de um certo modo “converter” com indiretas a minha mãe e a um tio que estava conosco...

Fiquei na porta, o calor lá dentro estava insuportável de tanta gente. O que me fez consolar foi os lindos olhos verdes da filha do pastor da qual eu a observava. E ela, no seu recatado modo de viver abaixava a vista...

Saí o cortejo, todos emocionados inclusive eu. Corta as pequenas ruas da cidadezinha, passa pelo mercado no qual trabalhou... Silêncio de muitos aliados ao calor que fazia da tarde, tornava aquela situação tortuosa...

Chega-se finalmente ao cemitério. O sepultamento (não se sabe o motivo) ocorre numa cova rasa de 3 palmos, a minha tia gritava com o coração pulsante de dor ao ver pela última vez o seu amado...Terminado tudo, no caminho de volta para a casa do tio eu estando ao lado dela, percebo chegar uma mulher que eu não tinha visto no velório ao lado dela e diz:

- Mulher! Não chora não! A senhora arranja outro...

Minha tia aumenta um pouco o choro e diz:

-Ah meu Deus! Ele é meu único amor! Eu não posso arranjar outro!

- Por quê?

- A igreja não permite!

E torna a chorar mais...

Chegando na casa depois de algumas orações da então esposa do pastor, nos despedimos de tia...

Eu nunca mais vi a tia...E nem olhos verdes da filha do pastor...