ZÉ DA RITINHA...

Zé da Rinha...

Sob um sol escaldante estava a capinar o roçado o Senhor Zé da Ritinha, aproximou-se dele um tal de “oficial de Justiça”, homem posudo, com roupas de cidade e voz de autoridade.

“O Senhor é o José Dias de Jesus de Nascimento do Rosário? vulgo Zé da Ritinha?”

Perguntou o cidadão com voz firme e ríspida.

“Sou eu sim senhore, só não sou esse tar de vulgo”,

respondeu de pronto nosso querido e sexagenário Zé.

Olha moço eu sou oficial de justiça.

Oficiar de quê??? Perguntou o zé.

“Oficial de justiça, vou lhe explicar para o senhor saber quem tá falando com o senhor, eu trabalho pra um Juiz lá da Cidade, quando eu falo com o Senhor ele é que está falando, falando comigo e com ele é a mesma coisa”.

Explicou o posudo moço.

O zé tirou o chapéu roto da cabeça, enxugou o suor e apoiando no cabo da enxada, olhando para aquele moço todo aprumado disse:

“Eu agora é que tô mais encabulado ainda, não intendi nada não, aqui só tem eu e o senhor e esse moço da cidade o tar juiz ta aqui também???”

“Olha moço eu vou logo ao assunto “, exclamou impaciente o dito oficial de Justiça, e continuou: “eu trouxe este papel aqui, e é um chamado para o Senhor ir lá na cidade no Fórum neste dia e hora para conversar com o Juiz e ele vai explicar pro Senhor a situação , e o senhor tem, que ir senão ele manda buscar o senhor aqui mesmo no roçado, intendeu???”

O Zé pegou o paper, olhor , olhor e colocando o chapéu na cabeça , dizendo “uai eu vo lá pra mode saber o que ta incomodando esse tar de Juiz e anuviar esse caso “

No dia e hora marcada na intimação cumprida, para espanto de todos, comparece diante do juízo o nosso Zé da Ritinha, adentrando no fórum ele se pôs diante do juiz.

O juíz já orientado de quem seria aquele pobre e roto moço foi logo dizendo:

“ Senhor José Dias de Jesus de Nascimento do Rosário , o senhor em 13 de março do ano de 1962 foi ao comércio do Senhor Antônio Milagres da Paixão e comeu 03 ovos cozidos ficando de pagar a conta em poucos dias, ocorre que até hoje o Senhor não pagou a conta , hoje, o Senhor Antônio quer receber a divida acrescida com os devidos juros e correção devidas, dando um total de 135.0000,00 (cento e trinta e cinco mil cruzeiros) levando em conta que se o requerente tivesse, colocado estes ovos para chocarem e os pintinhos viessem a se multiplicarem ele hoje teria uma granja com valor próximo deste que ele está cobrando; Senhor José Dias de Jesus de Nascimento do Rosário, o que o senhor tem a dizer ???”

Nosso Zé da Ritinha, pensou, pensou e disse de pronto:

“vô pagar seu moço! é isso, vô pagar!”

O juiz entogado e surpreso disse: “Senhor José, o Senhor prestou atenção no valor que tem que pagar?”

Afinal são 135.000,00 cento e trinta e cinco mil cruzeiros! exclamou nosso culto juiz.”

“é doutore, eu vou pagar, vorto aqui daqui a 05 dias e pago esta pendenga, o senhor pode esperar!”

Nosso Zé da Ritinha parecia estar realmente pronto a adimplir esta obrigação e marcou até o prazo do acerto.

Dia e hora marcados eis que vem com um enorme saco de linhagem em seus ombros, caminhando em direção ao fórum nosso humilde e simpático Zé da Ritinha.

Já havia se espalhado na cidade o encontro do moço da roça com a soberana e implacável justiça, e todos se amontoavam no fórum para testemunharem o tal pagamento.

Ante a tribuna, onde os homens são pequenos, se posta nosso roceiro e o juiz pergunta: “Senhor José Dias de Jesus de Nascimento do Rosário, o senhor veio cumprir sua obrigação???

“Vim Sim!” “respondeu o devedor, “então pague!” ordenou nosso magistrado.

Prontamente o Zé derrubou ante o juiz uma quantidade enorme de mandiocas, pelo que o juiz perguntou: “o que é isso Senhor José Dias de Jesus de Nascimento do Rosário ?”

“uai! mandioca sô!” respondeu calmamente nosso Zé da Ritinha.

“Sim, eu estou vendo, só não entendo o que o senhor quer com tanta mandioca?”

“Oia seu doutore, eu pago com o que tenho, pranto mandioca no roçado, eu comi ovo lá na venda desse moço, então ele pega essas mandiocas e pranta, vai dá um monte e repranta e repranta de novo, daqui uns tempo ele tem um moinho de farinha, fica rico e pronto, tá pago minha dívida” argumentou nosso Zé.

Eis que neste instante se aproxima do monte de mandiocas o advogado do reclamante e analisado uma das mandiocas disse: “Excelência estas mandiocas e brotos estão cozidos, não se pode plantar brotos e mandiocas cozidas! “

O juiz já meio sem paciência disse:

Senhor José Dias de Jesus de Nascimento do Rosário, o senhor está a caçoar deste tribunal??? Como pode plantar mandiocas e brotos cozidos???

Respondeu nosso Zé de Pronto:

“oia seu doutore, o senhor já viu ovo cozido dar pinto???”