SEM RAÍZES
No vasto e quente Maranhão, uma andarilha chamada Clara desafiava os limites do que se poderia considerar uma vida estável. Com quatro filhos pequenos a seu lado, ela caminhava pelas estradas poeirentas, cruzando cidades como um rio que flui sem destino certo. Cada cidade era uma parada temporária, um breve sopro de esperança antes que o vento a levasse novamente para longe.
Clara, uma mulher de olhar profundo e cansado, carregava em sua cabeça uma trouxa repleta de roupas surradas, mantimentos escassos e panelas que tilintavam ao ritmo de seus passos. Seus filhos, com idades que variavam entre quatro e dez anos, formavam uma pequena fila atrás dela, como uma escadinha de crianças que tentavam acompanhar o passo da mãe. Eles eram a sua razão de viver, mesmo que a vida que levavam fosse uma luta constante.
As noites eram passadas sob as calçadas das lojas, em casas abandonadas ou sob pontes, onde o barulho das águas correntes se misturava às lágrimas silenciosas de seus filhos cansados. Clara não aceitava caronas; algo dentro dela a impelia a seguir em frente, como se estivesse em uma busca incessante por uma Canaã que nunca chegava. A ideia de se acomodar em qualquer lugar parecia um gesto de fraqueza, e sua determinação a tornava cada vez mais isolada, mesmo em meio a multidões.
Nos dias em que a fome apertava, ela e as crianças pediam comida aos transeuntes. Alguns, compadecidos, ofereciam um pedaço de pão ou um prato de comida. Era uma vida de dádivas e caridades, mas Clara sempre recusava as ofertas de abrigo duradouro. Quando alguém se oferecia para cuidar de uma de suas crianças, ela respondia com um olhar firme, quase desafiador: "Eles são meus. Ninguém ficará com eles."
As cidades que passavam tornavam-se um mosaico de rostos e histórias efêmeras. Às vezes, Clara parava e contava sua história, um relato de dor e perda, de um passado que a havia empurrado para aquela vida errante. Mas, assim que seus filhos começavam a criar laços, a se sentir em casa, ela sentia que era hora de partir novamente. O choro deles ecoava em seu coração, mas a necessidade de liberdade e de não se apegar a nada a levava a seguir em frente.
Certa vez, ao chegar a uma pequena cidade, Clara encontrou uma casa com uma varanda convidativa. O dono, um homem idoso com olhos gentis, ofereceu água gelada e um lugar para descansar. Os filhos, exaustos, sentaram-se no chão de terra batida, enquanto Clara contava sua história. “Perdi tudo”, dizia com a voz embargada. “Mas eles são tudo que eu tenho.”
O homem, tocado pela dor da mulher, ofereceu um abrigo temporário. Clara aceitou, mas apenas por alguns dias. Assim que a sensação de segurança começou a se instalar, ela sentiu o peso do compromisso e, com um coração pesado, decidiu partir. Ao deixar a casa, seus filhos choraram, e as lágrimas deles pareciam um eco de uma vida que nunca se firmava.
Assim, Clara e seus filhos continuaram a jornada, sempre em movimento, sempre em busca. De cidade em cidade, a andarilha se tornava uma sombra, um espírito errante que vagava pelas estradas do Maranhão. E, enquanto o sol se punha e as estrelas começavam a brilhar, ela olhava para o céu, perguntando-se se um dia encontraria um lugar onde pudesse finalmente parar, ou se a eternidade da estrada seria seu único lar.