CRISTAIS QUEBRADOS

Era uma tarde ensolarada quando Eduardo a viu pela primeira vez na praça. Mônica, com seu sorriso radiante e seus cabelos soltos ao vento, parecia a personificação da juventude. Eduardo, um homem comum, sentiu seu coração acelerar. A beleza dela o encantou imediatamente, e ele não hesitou em tentar conquistá-la. Jantares sofisticados, passeios românticos e pequenos presentes tornaram-se parte de sua rotina. Mas, por trás da fachada de alegria, Mônica lutava com seus próprios demônios.

Ela era jovem e inexperiente, e sua mente estava repleta de inseguranças. Embora fosse negra, o que deveria ser motivo de orgulho tornou-se uma barreira em sua percepção. Mônica, lutando com sua identidade e aceitação, não conseguia ver Eduardo como um parceiro. Ele era um homem negro, e essa única característica se tornou um obstáculo intransponível para ela. Mesmo assim, Eduardo persistiu, oferecendo-lhe um mundo que ela não sabia como valorizar.

O tempo passou e Mônica perdeu o brilho da juventude que antes a iluminava. Eduardo, por outro lado, amadureceu. Ele se casou e teve filhos, enquanto Mônica se via presa a relacionamentos conturbados, e eventualmente se separou. O destino, porém, os reuniria novamente de uma maneira inesperada.

Certa noite, ao sair de um compromisso, Eduardo avistou Mônica na rua. Ela parecia uma sombra do que fora. Com um olhar triste e um semblante cansado, ele se aproximou, oferecendo-lhe uma carona. Ao pegar seu número, o passado reverberou em sua mente. Decidiu ligar, sem saber que Mônica havia se transformado em algo que ele jamais poderia imaginar.

Quando se encontraram, Eduardo notou as mudanças drásticas: os dentes faltando, a falta de cuidados pessoais e um odor que pairava ao redor dela. Mas, em seu coração, ainda havia um vestígio da paixão que um dia sentira. Ela pediu dinheiro, e Eduardo, movido por uma mistura de nostalgia e desejo, concordou em acompanhá-la a um motel.

Lá, a atmosfera estava carregada de uma expectativa estranha. Eduardo tentou resgatar a conexão que um dia tivera com Mônica, mas ao beijá-la, o gosto amargo do passado invadiu sua boca. O fedor do cigarro e a falta de higiene o atingiram como um soco no estômago. Contudo, ele não recuou; a fantasia do amor perdido ainda o mantinha preso àquela situação.

Mas a realidade logo se impôs. Ao se despir das ilusões, quando se entregou ao ato, o encanto que o envolvia se quebrou de forma abrupta. Ao notar que Mônica estava menstruada, um arrependimento profundo e avassalador tomou conta de Eduardo. Ele havia traído sua mulher, sucumbindo a uma fantasia que não tinha mais substância.

Aquele momento insólito se gravou em sua memória como um alerta doloroso. A imagem de Mônica, uma vez tão vibrante, agora o preenchia de repulsa. Ao cruzar com ela nas ruas próximas de sua casa, não havia mais amor, apenas um eco de assombro. O que um dia foi um amor arrebatador agora se tornara um lembrete sombrio de como o tempo e as escolhas podem transformar as pessoas e seus sentimentos.