LILITH E SUA TRAGÉDIA

Lilith cresceu em Macapá, em meio ao calor intenso e à umidade que caracterizavam a cidade nos anos 90. Desde pequena, mostrava-se uma criança difícil. As primeiras travessuras eram vistas como uma fase passageira, mas, à medida que os anos passaram, sua rebeldia se tornou uma constante. Aos sete anos, começava a mentir para os pais e a desobedecer as regras simples de casa. Sua mãe, uma mulher trabalhadora e dedicada, tentava entender as mudanças de comportamento, acreditando que tudo era parte do crescimento.

Conforme Lilith se aproximava da adolescência, sua conduta se tornava cada vez mais desafiadora. Na escola, o que antes eram pequenas mentiras se transformaram em grandes conflitos. Ela se envolvia em brigas, xingava professores e fazia questão de ser o centro das atenções, mesmo que isso significasse desrespeitar os mais velhos. Em casa, seu comportamento era igualmente conflituoso; a menina que outrora era doce e carinhosa se tornara uma jovem cheia de desdém.

A mãe de Lilith, angustiada, via as queixas chegarem cada vez mais frequentemente. "Sua filha é problemática", diziam os professores. Mas para ela, era difícil acreditar. Lilith sempre teve um jeito de se fazer passar por boazinha quando estava perto da mãe, e isso levou a mulher a uma profunda negação. No entanto, a realidade começou a se desenhar à sua frente quando decidiu acompanhar a filha na escola. Foi então que descobriu a extensão da rebeldia da garota.

A cada dia, Lilith se afastava mais dos valores que sua mãe tentara inculcar. A jovem começou a se juntar a um grupo de alunos problemáticos, que a influenciavam a experimentar novas coisas, a desafiar limites e a se expor a situações perigosas. A mãe tentava corrigir os caminhos da filha: castigos, a retirada do celular, proibições de assistir televisão. Mas nada parecia funcionar. Quanto mais pressionada se sentia, mais Lilith se entregava à rebeldia.

Em uma tarde quente, após mais uma discussão em casa, Lilith decidiu sair da escola antes do horário. Ela e seus amigos se dirigiram à praça do bairro, um lugar que se tornara o ponto de encontro para jovens como eles. Conversas descontraídas se transformaram em risadas altas e provocações. A adrenalina da vida na rua parecia fasciná-la, e ela queria se mostrar forte, desafiadora.

O que ninguém esperava era que a tranquilidade da tarde fosse interrompida. Um aluno de uma facção rival apareceu, armado com uma espingarda calibre 12. O pânico tomou conta do grupo. Enquanto seus amigos fugiam, um deles se escondeu atrás de Lilith, na esperança de que ela o protegesse. Mas a situação rapidamente se tornou fatal. O disparo ecoou pela praça e, em um instante, a vida de Lilith foi ceifada, atingida por uma bala que não deveria ser dela.

A notícia da tragédia chegou à sua mãe como uma tempestade. Desesperada, ela não conseguia processar a dor. Em meio ao luto, a mulher se viu refletindo sobre os anos de rebeldia, as desobediências, e como, em busca de aceitação, Lilith havia se perdido em um caminho perigoso. Com apenas 17 anos, a jovem foi vítima de suas próprias escolhas e da influência de um grupo que não a levava a lugar algum.

Lilith partiu, deixando para trás um rastro de dor e arrependimento. Sua história se tornou um triste lembrete para os que a conheceram, um eco das consequências de se perder em caminhos tortuosos, onde a busca por aceitação pode levar a um fim trágico. A mãe, agora sem sua filha, carregava a dor da perda e a culpa de não ter conseguido protegê-la das armadilhas do mundo.