ENTRE FILHOS E SONHOS
Jesuína sempre foi uma mulher de garra. Com seis filhos de dois relacionamentos tumultuados, aprendeu a lidar com a dor e o abandono. A vida a ensinou a ser forte, mas também a carregar um fardo pesado. A pensão alimentícia que recebia dos pais de seus filhos mal cobria as despesas básicas, e o trabalho árduo em um emprego que mal pagava o aluguel exigia dela um esforço sobre-humano. Nos momentos de solidão, ela se perguntava se alguma vez teria a chance de ser feliz.
Foi em um dia comum, enquanto organizava a casa após mais uma longa jornada de trabalho, que conheceu Marco. Ele era um homem mais velho, mas com um olhar gentil e uma disposição admirável. Trabalhador, ele tinha uma vida estável e, após algumas conversas, decidiram construir uma amizade, como se o tempo tivesse urgência. Para Jesuína, era como se uma luz acendesse em meio à escuridão que a cercava.
Entretanto, essa nova amizade trouxe à tona os fantasmas de seu passado. Os quatro filhos mais velhos, acostumados a serem o centro de sua vida, não aceitavam que a mãe dividisse sua atenção. Com ciúmes, começaram a se rebelar. As tarefas de casa, que antes eram parte da rotina, passaram a ser vistas como um fardo. Eles não entendiam que Jesuína estava tentando encontrar uma nova motivação para viver e se cuidar. A mudança de comportamento foi drástica: desrespeito aos professores, brigas na escola e um desdém crescente em relação ao novo companheiro.
O ambiente familiar se tornou um campo de batalhas. Jesuína, no meio do fogo cruzado, tentava manter a paz, mas a pressão era imensa. Marco, que inicialmente estava disposto a ajudar, começou a sentir o peso das reclamações e do ressentimento. Um dia, após uma discussão acalorada, ele decidiu que precisava de um tempo para pensar. Para ele, a situação estava insustentável.
A separação foi um golpe para Jesuína. Ela se viu sozinha, novamente, cercada por filhos que a amavam, mas que não conseguiam entender suas necessidades. A casa, antes cheia de risadas e correria, tornou-se um lugar silencioso e pesado. Com o passar dos anos, seus filhos cresceram e começaram a seguir seus próprios caminhos, deixando Jesuína sozinha em sua casa, agora vazia.
Com o tempo, as visitas tornaram-se escassas. A solidão foi se instalando em seu coração, e a tristeza transformou-se em depressão. Os filhos, preocupados com suas próprias vidas e relacionamentos, não perceberam o quanto a mãe estava se apagando. Em um ato de desespero, acabaram por colocá-la em um asilo. A dor de ser deixada para trás foi imensa, mas ela ainda esperava que, um dia, seus filhos pudessem entender suas escolhas.
Infelizmente, a velhice que deveria ter sido um tempo de reflexão e serenidade se tornou um período de solidão profunda. Jesuína faleceu sem que seus filhos estivessem ao seu lado, apenas com a lembrança de uma mulher que lutou bravamente por amor, mas que, no final, perdeu-se em meio às expectativas e desilusões. O lamento de sua ausência ecoou nas paredes do asilo, onde as memórias de sua vida se misturavam com as de tantas outras mulheres que também buscavam um lugar ao sol.