Adivinhe quem vem para jantar

Edith O'Neal abriu a cortina da sala de estar. Uma viatura da polícia de Havana havia parado em frente à sua casa, e o motorista desceu pouco depois; do banco de trás, desembarcou uma riponga de vestido longo florido e cabelos soltos... segurando um beagle nos braços.

- Skipper! - Exclamou imediatamente a dona de casa.

Passos apressados vindos do andar superior indicaram que a dona do animal, a pequena Tracey, também havia presenciado a movimentação.

- Skipper! - Gritou ela, descendo as escadas em ritmo acelerado.

Edith abriu a porta no mesmo instante em que o policial bateu palmas.

- Senhora O'Neal? - Indagou o homem, retirando o chapéu da cabeça em saudação.

- Vocês acharam o Skipper! - Tracey correu para abrir o portão, e a riponga colocou o beagle no chão, que imediatamente correu para a dona.

- A senhorita Luna nos ajudou a encontrar os sequestradores... - informou o agente, fazendo um gesto para a garota, que aguardava num silêncio altivo, atrás dele.

- Sequestradores... meu Deus! - Exclamou Edith, levando as mãos à boca. Indiferente ao relato, Tracey rodopiava com o beagle, que latia feliz, em seus braços.

- A senhorita Luna também veio para receber a recompensa - acrescentou o policial, com ar de quem estava se divertindo com a situação.

Edith O'Neal ergueu os sobrolhos.

- A recompensa...

- Os 50 dólares - recordou placidamente Vana.

- Sim, certo - titubeou a dona de casa, mordendo o lábio inferior. - Meu marido quem pôs os cartazes... ele está trabalhando agora. Mas se puder voltar à noite, depois das 19 h...

- Eu volto - assegurou Vana.

Edith fez um gesto para o agente.

- Policial Ray... me permite?

Ele aproximou-se com cara de quem sabia o que iria ouvir.

- Pois não, madame? - Indagou, chapéu nas mãos. Inclinou-se para que Edith cochichasse em seu ouvido:

- Qual foi a participação dessa daí na história?

- A senhorita Vana nos levou até o esconderijo dos criminosos... eles já haviam roubado vários cães na região e estavam sendo procurados em Tallahassee - cochichou Ray de volta.

Edith fez cara de espanto.

- Quem poderia imaginar... - murmurou, aprumando-se.

E com um sorriso amigável para Vana:

- Você poderia vir jantar conosco essa noite, senhorita Luna?

- Pode me chamar de Vana - replicou a interpelada, aproximando-se. - Vou ter que pedir autorização à minha chefe, mas acredito que ela vai me liberar mais cedo.

- Você trabalha! - Admirou-se a dona de casa, estendendo a mão - Eu sou Edith!

Vana apertou a mão e respondeu:

- Sim, trabalho como garçonete; foi uma cortesia da senhora Wanda, a dona do café.

Edith olhou admirada para Ray, que apenas balançou a cabeça, confirmando a informação.

- E essa aqui, - disse Edith puxando a filha com o beagle nos braços para junto de si - é a...

- Tracey - antecipou-se Vana, agachando-se para ficar à altura dos olhos da menina. - Oi Tracey.

- Você salvou o meu cachorro - disse embevecida a menina, sem soltar o beagle.

- Skipper é esperto, ele fugiu na primeira chance que os ladrões deram, - minimizou Vana - e a polícia fez o trabalho dela. Mas ele gostaria de te pedir um favor...

- O Skipper? - Indagou Tracey surpresa.

- Sim - Vana fez um gesto de cabeça. - Ele pede que você faça mais carinhos na barriguinha dele. Ele adora.

Skipper latiu, para reforçar a solicitação.