Caipira I
Sou do mato, matuto puro de origem, graças a meu pai pude estudar e conhecer a vida urbana, então graças a mim próprio viajei, trabalhei, estudei e aprendi muito.
Agora com a maturidade, cada vez mais me sinto mais ignorante e saudoso da ingenuidade pueril daqueles que do mato jamais saíram.
Nunca me afastei daquela gente, sou amigo dos antigos empregados de fazenda e inclusive os visito amiúde.
Tenho por essa gente uma estima muito grande pela maneira do trato e para minha própria analise critica de suas idéias.
Claro que do ponto de vista cultural, ainda vivem muito arraigados a dogmas culturais da herança genética e das igrejas.
Minha mulher, totalmente urbana, ainda no inicio de nossa relação começou a viajar comigo a essas paragens, com uma enorme dificuldade de compreensão do linguajar e hábitos,característico dos mineiros da minha região.
Decidi então, até como homenagem, escrever alguns causos que ilustram essa maneira simples dos caipiras.
Importante dizer, antes que alguns me rotulem de metido a besta, que me considero também caipira, talvez com um jeito um pouco mais refinado e erudito.
Os erros de português daqui pra frente são propositais, sem o que tudo ficaria muito sem graça.
Estava eu outro dia em visita ao Compadre Mario, na sua modesta morada.
A conversa estava animada, por conta dos planos da lavoura de milho que tocaríamos de “ameia”.
Nem notei, que a hora havia corrido, já passava das oito.
Nisso entra na conversa a Helena, mulher do Mario, e sem a menor cerimônia, interrompendo nosso animado papo, pergunta ao marido:
-Mario, cê vai mi ocupá hoje?
Ele secamente:
-Não
-Então tá, vô lavá os pé e dormir.
-Té manhã pro ceis.