A rezadeira
- Chame D. Maria, rezadeira!
- Já dei o remédio para ele.
- Esse remédio não serve. Isso é tosse convusca. Só a reza de D. Maria dá certo.
- Vou chamar... Chegou D. Maria.
- Dia, D. Maria.
- Dia, Seu José. Cuma vão as coisa?
- As coisa num tão boa, D. Maria. Tenho esse minino aqui com uma tosse que dá medo.
- Apois num tou aqui pra rezar, Seu José?
- Pois intão reze, D. Maria, que não me aguento mais ver o sofrimento dessa criatura.
- Deixe ver ele. Isso é espinhela caída mais quebranto, Seu José. Trouxe aqui u’as foias pra mode rezar e tirar todo o mal feito em cima dele... Mas óia, Seu José, vou lhe dizer u’a coisa, se me permite...
- Apois, diga, D. Maria...
- Tem munta gente de óio gordo no sinhô. Cuma o senhor tem mais proteção, as coisa pegou no seu fio que é um inocente.
- Isso já pressentia, ora pois, e eu não sei disso?
- Mas dessa vez foi trabaio feito mermo. Sinhô fique de óio aberto. Aqui, de minha parte, vou rezar pro minino e ele vai ficar bonzinho tinindo, mas o sinhô abra o óio. Vá fechar mais o corpo e faça arguma coisa para proteger sua casa e sua famia.
- Sim, sinhora, D. Maria. E agora, sacuda as foia. Já não me aguento mais de vontade de ver esse minino bom.
- Dê uma licencinha, intão. Me deixe só com ele.
- Pois não, D. Maria, faça o que é preciso.
- Tá rezado, Seu José. Tudo que é de ruim vai ser queimado nessas foia que tirou dele o quebranto.
- Quanto lhe devo, D. Maria?
- Os favores de Deus, Seu José.
- Pois vou mandar levar, pra sinhora, feijão, farinha, arroz, feijão de corda, milho e carne seca.
- Deus lhe pague, Seu José! Agora tenho que ir porque tem mais gente quereno meus sirviços. Inté mais ver, Seu José!
- Inté mais ver, D. Maria. Deus lhe pague.
Rodison Roberto Santos
São Paulo, 13 de dezembro de 2023