GATO MEU

Eu vi aquela foto no celular do meu mais novo namorado, Augusto, e fiquei encantada com a imagem refletida na tela. Parecia aquelas fotos de capa de revista. Nossa, que lindo. Imediatamente perguntei de onde ele retirou aquela imagem daquele gato de olhos tão azuis. A resposta dele foi surpreendente:

- O gato é meu.

- Com assim, seu? – Não queria acreditar, mas já acreditando.

- O nome dele é Minino, com i. – Respondeu todo sorridente. – Por que as pessoas fazem essa cara de espanto todas às vezes que digo que ele é meu, hem?

- Porque ter um bichano desse porte, com olhos azuis e pelo fofinho, não combina com você. És um ogro musculoso e de voz grossa. – Falei a verdade.

- Faltou o fofo, você vive me chamando de fofo. – Fez cara de sofrido.

Conheci o Augusto na caminhada matinal que faço no Parque Solon de Lucena, conhecida por Lagoa. Certo dia esbarrei meio que sem querer nele, um rapaz alto, malhado e bonitinho. O coitado quase quebrou o meu nariz, eu com meus 1,60 de altura senti-me baixinha perto dele, com seus 1,90 de altura e 100 quilos bem distribuídos. E foi assim que nos aproximamos e depois de alguns encontros, apaixonamo-nos. Então, há exatamente cinco meses que namoramos. E por incrível que pareça, ele nunca mencionou o tal gato. Fui duas vezes na casa dele conhecer seus pais e um irmão mais novo, Toninho. Porém, ninguém mencionou gato algum. Fiquei curiosa para saber o real motivo de não sermos ainda apresentados, pois eu desejo muito conhecer o tal Minino. Engraçado, não gosto de gatos, mas esse eu quero conhecer.

Depois da foto, sempre que dava eu perguntava pelo gato. E Augusto sempre desconversando.

- Hoje iremos a sua casa e você apresentará o Minino a mim. – Argumentei em tom de autoridade.

- Gabriela, não poderei fazer isso. Minino é arisco e detesta conhecer pessoas. O único que pode aproximar-se dele sou eu. Nem os meus pais ousam tocá-lo. As unhas dele não são cortadas e aconselho-a ficar longe dele.

- E se eu tentar, quem sabe ele gosta de mim. – Insisti.

- Oxe, desde quando gostas de gato? Pelo que me lembro você detesta gato e cachorro. Outro dia você fez um escândalo somente porque o pinscher zero do vizinho invadiu seu terraço, o coitado é tão mansinho.

- Ah, desde que vi seu gato, senti algo diferente, sabe. Como se ele estivesse me chamando para ser dele. - Parei por um momento imaginando – Não sei, acho que toparei o desafio. Quero conhecê-lo.

E assim passei a frequentar mais vezes a casa do meu namorado no intuito de fazer amizade com o bendito gato de olhos azuis. Contudo, ele sempre resolvia se esconder de mim. Não sou de desistir facilmente, continuei as minhas buscas. Numa tarde de sábado combinei com o Guto de irmos almoçar juntos em sua casa. Levei lasanha pronta e água gaseificada. Assim que pus os pés no terraço vi o ser de pelos amarronzados olhando assustado e pelos eriçados desafiando-me ao mesmo tempo. Sem esperar algum comando do Augusto, fui rapidamente ao encontro do gato e o que aconteceu depois fez-me refletir se valia a pena tentar ser amiga de um animal nervosinho.

- Olá Minino, tudo bem bebê? – Mudei o tom de voz como se estivesse falando com um bebezinho em frente ao animal, quase acariciando-o, um escândalo aconteceu.

-Muaaaaauuuuuuu, miaaaauuuu, miaaaauuuuu... – Minino olhou e pensou “Quem ela pensa que é para chegar assim na minha casa e pensar que sou um demente. Não permitirei que esta humana me seduza. Ridícula!!” E avançou com unhas e dentes para cima de mim, por pouco não atingiu meu rosto. Mas, acertou precisamente meu braço, fazendo um arranhão bem feio.

- Minino não!! – Augusto interveio bem rápido antes que o pior acontecesse. Empurrou cada um para um lado, jogando-nos no chão. O gato correu para debaixo da cama, enquanto eu fiquei a lamentar o ocorrido.

- Falei que ele não é receptivo. Bem-feito por não me escutar. – Ele foi para a cozinha balançando a cabeça sem acreditar.

Fiquei desanimada pelo ocorrido. Achei que por frequentar a casa há alguns dias, Minino já estaria se acostumando comigo, puro engano. Entretanto, se vocês, caros leitores, pensam que eu desistirei, pensaram errados, agora serei esperta.

Nos meses que se seguiram resolvi estudar sobre o comportamento dos gatos, hábitos e tipo de humanos que mais os agradam. Descobri que eles têm hábitos noturnos, comem bastante, não recebem ordens tão facilmente, isso explica muita coisa. O fato dele ficar a olhar-me de longe, não significa que estou conquistando-o. Pode ser simplesmente uma estratégia para atacar- me novamente.

Enquanto isso...

“Que humana esquisita e teimosa. Preciso ficar nas sombras observando todos os seus movimentos. Ela vive agarrada com o meu humano. Atrapalhou totalmente os meus planos e rotina. Estou louco para ficar no sofá, e lá está ela. Que saco! Por onde quer que eu vá, lá está ela novamente.” E assim o gato julgou todos os movimentos da estranha invasora, enquanto ela nem percebia.

Conforme o tempo foi passando, ambas as partes foram cansando de lutar. Gabriela cada vez menos dando trela para o gato. E Minino repousando nos lugares que ele estava acostumado sem precisar implicar. De acordo com o comportamento da humana, o gato passou a olhá-la diferente. “Talvez ela não seja tão ruim assim. Irei aproximar-me dela só para testá-la.” E assim aconteceu. Certo dia, ele resolveu encará-la de perto, pois, o seu prato estava vazio. Procurou por seu tutor e nada dele aparecer. Então, a única forma de conseguir comida era manipular a humana, fingindo estar carente e querendo ser seu amigo.

- Miau, miau.. – Mudei o miado para ficar dengoso. Ela Olhou para mim sem piscar.

Eu comia meu cuscuz com ovo sossegada na cozinha quando ouvi um miado diferente bem pertinho de mim. Olhei para baixo e paralisei. Não é que o gato tentava algum tipo de comunicação comigo. O miado era calmo e insistente; olhar penetrante e rosnado. Sim ele estava rosnando para mim. Segundo o manual dos gatos isso significa que ele está gostando de mim.

- Miau, muaaauu... – Insistiu “Qual é dessa humana invasora? Vai ficar aí parada, estou com fome!!” – E assim, Minino perturbou até ela entender que ele estava com fome.

- Ah, acho que meu gatinho fofo quer ração. Vamos lá, só não vale me morder tá.

Gabi pôs a ração no prato do gato e a partir desse dia eles não se desgrudaram mais.

- Meu amor, nunca pensei que a insistência de um gatinho fosse estimular um sentimento tão verdadeiro e mudasse de vez a minha concepção errônea que eu tinha a respeito dos gatos. – Disse feliz.

- Sei disso não. Que eu saiba foi a senhorita quem perturbou o meu gato. - Respondeu zombando dela.

No sofá abraçada ao namorado, Gabriela tentava encaixar Minino que miava repetidamente, entre eles, inseparáveis.

E Minino:

“Agora pronto, só faltava essa, ocuparem o meu sofá sem pedir permissão. Não os deixarei em paz, o sofá é meu.” E assim miou até conseguir o que queria: ficar no sofá.

Débora Oriente

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 24/07/2024
Reeditado em 21/08/2024
Código do texto: T8114077
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.