PROIBIDO PARA MENORES: A LIÇÃO!!!
A LIÇÃO
Assentado no meio-fio, com a cabeleira esvoaçando ao sabor da brisa, um sorriso debochado no rosto e uma lata de cerveja na mão (onde será que ele conseguira comprar já que a lei proíbe a venda de bebida à menores?), o adolescente insistia mais uma vez com os amigos usando seu linguajar peculiar:
- Vocês são “paia” mesmo! Essa de mamãe não quer que eu saia a noite é apenas para que esses “prego” nos dominem. Eles querem que sejamos capachos, fazendo tudo do jeito deles...
- Larguem de ser bobos e vamos sair, - insistia - somos jovens e merecemos nos divertir!
Aos 14 anos o menino já bebia, fumava, aparecia em casa apenas quando sentia fome e bem depois da madrugada romper as horas a fim de dormir um pouco.
Pior do que fazer tudo isso, era tentar convencer os amigos a trilharem o mesmo caminho tortuoso que ele. Discursava longamente com os colegas que cresceram com ele; como um político convencendo os eleitores!
- “Animal caras!” vocês não sabem o que estão perdendo... a época deles já passou, agora somos nós e vamos curtir todas...
- mas... mas... – objetou um dos jovens que o ouviam – você não tem nem um pouquinho de medo?
- Medo de quê? – respondeu o adolescente – de apanhar da mamãe e do papai? Que tolice!
A vizinha já estava farta daquele adolescente que, de um bom menino, do dia para a noite, transformara-se num projeto de marginal e, o pior, tentava levar pelo mesmo caminho outras crianças inocentes: exatamente o filho e os sobrinhos dela....
- Deus – rezava a mulher – não permita que as crianças se deixem envolver por aquele doidinho, mostre-me um caminho para que eu possa impedir que tal desastre aconteça em nossas vidas...
Ainda estava a rezar quando, de repente, ouviu um dos garotos dizendo:
- Não são apenas nossos pais, por acaso você não ouviu falar da morta que anda?
- É verdade! – completou outro – dizem que todas as noites ela sai por aí, agarrando os rapazes que encontra, leva-os para sua tumba e os vai matando lentamente...
- Bah! – vociferou o adolescente fanfarrão – vocês acreditam nisto? Isto é mais uma estória da carochinha, criada para manter-nos dentro da linha...
Mais meia hora se passou antes que o adolescente fanfarrão se despedisse dos amigos de infância e saísse pela noite...
Os outros garotos foram para suas casas ainda fazendo conjeturas:
- Será que ele falou a verdade? E se falou estaremos mesmo sendo babacas?
A vizinha enraiveceu-se de vez... Decidiu que já era tempo de alguém dar uma lição naquele adolescente tolo... Por que ele queria levar consigo os amigos para um caminho tortuoso e não muito honesto?com quem ele pensava estar se metendo?
A noite seguinte, foi providencial: era uma noite com pouco luar e a companhia de energia elétrica avisou pelos noticiários que faltaria luz... Seria nesta noite ou nunca!!!
Após as 19 horas, a boa senhora, recolheu-se aos seus aposentos dizendo que estava com “uma dor de cabeça” e recomendava ao filho e sobrinhos que se saíssem não fossem para muito longe porque mesmo que eles não tivessem medo... Ela tinha medo da morta! E que tinha a sensação que algo ruim estava por acontecer....
Como todo fim de tarde os meninos reuniram-se no passeio a fim de conversarem e brincar um pouco.... no meio deles, como sempre estava o contador de vantagens...
Conversaram até que as luzes começaram a piscar...
- Hora de entrar – disse um dos garotos – não quero estar na rua na hora da morta aparecer!
- Bobagem! – exclamou o vantajoso – vocês deveriam é colocar uma roupa de homem e ir comigo para o barzinho onde a turma vai se encontrar!
- Nem pensar – respondeu o menino – minha mãe disse que ela tem a sensação de que algo ruim vai acontecer hoje, e quando ela tem essas sensações.... eu até arrepio....
O adolescente fanfarrão ainda gargalhava quando as luzes apagaram-se de vez...
Os outros garotos ainda continuaram mais alguns minutos na rua a fim de não parecerem tolos frente àquele garoto tão mais corajoso que eles...
O barulho de saltos altos no asfalto despertou-lhes a atenção:
- Quem será? Toda mulher morre de medo de sair andando no escuro...
Avistaram-na afinal: uma mulher muito alta, vestida num longo preto, uma corcunda imensa dominava-lhe as costas , usava uma espécie de capuz e dava passos vacilantes como se estivesse bêbada!
- É ela!!! – gritaram os meninos – é a morta que veio para arrastar alguém até sua mortalha!!!
A figura continuava andando em direção ao grupo quando o fanfarrão virou para os colegas e disse:
- hoje, vou provar a vocês que isso é estorinha para assustar crianças, querem ver só?
Todo pomposo, aproximou-se da mulher e num átimo... Arrancou-lhe o capuz!!!!
- Socooorro – gritou o fanfarrão – socooorro!!!!
E pálido como um cadáver tombou desmaiado no meio da rua...
Mesmo com muito medo, os amigos foram socorrê-lo. Ocupados em fazer isto, não viram como a misteriosa mulher desaparecera...
Seis anos se passaram até que aquele menino resolvesse novamente sair à noite, nunca mais bebeu ou fumou desgovernadamente...
E durante este período repetia para quem quisesse ouvir seu encontro com a morta:
- Foi horrível – dizia – quando arranquei o gorro dela, vi aqueles cabelos todos espetados... Eu ainda pensava que era brincadeira de alguém...mas ao ver o rosto ...Céus... Era pavoroso! Os olhos vazios brilhavam no escuro... Os dentes caindo... As faces em chagas...lagartas saíam delas...
Ouvindo a história pela milésima vez, a vizinha sorria intimamente... Ainda bem que ninguém escavou o canteiro de taiobeiras nos últimos seis anos. Talvez se o fizessem, lá encontrariam a face descrita, o longo roupão negro, a peruca espetada e o bendito capuz... Ainda bem que ninguém o fizera....
Imaculada Catarina