As confissões do professor Caraíba
O professor Caraíba foi convidado para uma Roda de Conversa na Faculdade Esperança Viva de Manaus. Quando chegou a sua vez de falar, ele disse: “Vivemos tempos difíceis e em várias áreas, principalmente na comunicação, seja pessoal ou profissional. Especialistas dizem que vivemos na era da pós-verdade, isto é, na época atual não importa a verdade em si, o que importa são as narrativas”.
“O senhor tem razão professor”, disse o mediador daquela Roda de Conversa. “As redes sociais – ele continuou – revolucionaram a comunicação, mas também fragmentaram as nossas relações pessoais. Atualmente, se discute o quão é essencial encontrar o equilíbrio entre a tecnologia e as interações reais para evitar a alienação e priorizar as conexões significativas. O que o senhor pensa de tudo isso?”.
O professor Caraíba refletiu um pouco e em seguida respondeu: “Paradoxalmente, o mundo tornou-se pequeno. Com o avanço das tecnologias, podemos falar com quem quisermos e a hora que quisermos, com qualquer pessoa e em qualquer parte do mundo. No entanto, o maior problema é que não conversamos mais com quem está do nosso lado. A presença do outro se tornou insuportável. Para muitos, é melhor ter um amigo distante do que um amigo presente, aqui, de carne e osso, bem na nossa frente”.
“Que contradição, meu Deus! – disse o mediador. Hoje não se conversa mais! Muitas pessoas vivem debaixo do mesmo teto, mas não se falam. São pais que não conversam mais com seus filhos e são filhos que não conversam mais com seus pais. Preferem viver com os olhos grudados na tela do celular. As redes sociais tornaram-se o refúgio de muitas pessoas. Nelas, as pessoas passam a maior parte do seu tempo”.
“Para as pessoas que vivem grudadas no celular – continuou o professor Caraíba – quando se dão conta, o tempo já passou. O dia amanheceu ou a noite já chegou. Tenho observado que a maioria das pessoas que reclama de falta de tempo são as que vivem com o celular na mão, conectadas nas redes sociais. E é engraçado, que são justamente essas pessoas que afirmam nunca ter tempo para nada!”.
“Dia desses, em sala de aula, – continuou o professor Caraíba – um aluno me perguntou como era a minha relação com o celular. Eu lhe respondi que tenho uma relação saudável, que sou eu que uso o celular e não ele que me usa. “Ué, como assim, professor?”, me perguntou um aluno admirado. E eu lhe respondi. Tenho horário predeterminado para o uso do celular. Como eu sou professor, eu não posso ficar olhando o celular em sala de aula o tempo todo. Se eu faço isso, que exemplo eu estou dando para o meu aluno? De manhã, quando eu saio de casa, eu olho o celular, respondo às mensagens e vou para o trabalho. Meio-dia, quando eu chego em casa para o almoço, eu olho novamente o celular. E à noite, quando eu chego do trabalho, eu costumo ficar um pouco mais no celular, principalmente nas redes sociais, para responder mensagens, falar com os amigos”.
“Eu sou defensor da ideia de que tudo o que existe na natureza e pode ser usado pelo ser humano, tem que ser usado com cuidado e moderação. Penso ainda que todos os recursos da Natureza devem beneficiar o maior número possível de pessoas, à coletividade e nunca apenas o individual. Não podemos ser alienados. Tudo o que existe na natureza tem os dois lados, o lado bom e o lado ruim. É assim a vida, são assim as coisas”.
“O senhor tem razão – retomou a palavra o professor Caraíba – as novas tecnologias estão aí para facilitar e muito a nossa vida. Eu penso que o maior problema do ser humano atualmente é a forma como ele vem se relacionando com as novas tecnologias, como ele vem se relacionando e usando as coisas. Muitas coisas estão à nossa disposição. São ferramentas e mais ferramentas, úteis e válidas, coisas extraordinárias. A única coisa que precisamos fazer é saber usá-las!”.
O mediador daquela Roda de Conversa olhou o relógio, sondando as horas. “Aplaudam, vamos, aplaudam o melhor de todos os filosóficos da Amazônia”, disse. Dado à clausura, o professor Caraíba desejou não ter aceitado o convite para palestrar naquele evento, mas ele estava ali, não tinha como fugir e num gesto de humildade, curvou-se diante dos estudantes da Faculdade Esperança Viva de Manaus. “Obrigado, obrigado e obrigado!”, disse. Foi aplaudido de pé por todos os presentes!