O VACILÃO DO GATO PRETO
Lordinado passava com sua Variant pela Estrada do Judas, quando recebeu um "beijo" de um marimbondo. Pronto! Seu beiço inchou. O cara estava cheio de ira. Muitas coisas aconteceram num dia só : Tinha jogado no macaco, mas deu cachorro. Que azar! E outra, pra variar: uma jovem grávida apareceu no pé sujo em que ele trabalhava de garçom. Chegando no local, Edinaura, dançarina de forró, causou o maior auê. Armou aquele barraco! Apontou o dedo na cara de Lordinado : Desperta aí sujeito! Na hora de derramar o mingau foi prazeroso né! Vai esperar o resultado do DNA? Espera sentado! É daqui pra tranca! Você vai mofar, seu salafrário! Ninguém vai te ver! Nem mesmo a Senhorinha, a boba da sua esposa, a princesa aqui da comunidade do Gato Preto!
Lordinado não sabia onde enfiar a cara! Queria sumir! Só pensava no que o Mano Cris, irmão de Edinaura, iria fazer com ele. O cara era o terror do Gato Preto!
Bandidão que já mandou dezenas para a terra dos Pés Juntos.
Lordinado escutou o barulho de uma moto, dando aqueles estalos no motor. Ele estava na cozinha tentando convencer o seu patrão, o portuga Seu Manoel, a dar-lhe uns dias de licença urgentemente. Lordinado ouviu os pipocos e levou um baita susto! O cara ficou amarelo, roxo, vermelho, quase teve um piripaque!
Seu Manoel saiu do estabelecimento e deu uns gritos, xingando os meninos que faziam cavalo de pau com a moto bem em frente ao seu comércio.
Lordinado precisava dar um jeito de fugir do Gato Preto.
Explicou toda a situação ao Seu Manoel, mas o portuga não quis entender. Não queria confusão para o seu lado. Com medo que o seu funcionário pudesse ser morto dentro do restaurante, Seu Manoel demitiu Lordinado. Este chegou em casa e contou para a Senhorinha, sua esposa, que fora dispensado do restaurante.
Ela nem prestou atenção no que seu esposo falava, só olhava para o beiço dele inchado.
_ O que foi isso, Lô?... Olha, não esperava isso de você! Nem perca seu tempo tentando me explicar!
Senhorinha, neste instante, se viu desolada. A sua mãe tanto lhe falou, mas ela quis pagar pra ver.
Apesar do engano, quanto à questão do problema nos lábios do seu esposo, a bem da verdade era que Lordinado não merecia uma mulher tão dedicada, amorosa e fiel. O cara era cheio de esquemas. Senhorinha ouvia muitas conversas, toda a comunidade do Gato Preto sabia, mas ela não queria acreditar. Na verdade, ela tapava os ouvidos para manter o casamento . Não se casou para se separar.
Lordinado tentou convencer Senhorinha a mudar de ideia, mas ela já estava colocando as roupas dele na mala. Lordinado chorou na friagem da madrugada. Dormiu dentro da Variant. Quando se aproximou das três da manhã, toda a comunidade ouviu vários disparos. Um jovem doente mental, morador de rua, apelidado de Curió por ter a mania de andar com as mãos balançando como se batesse asas, foi testemunha ocular. Ele viu a dançarina Edinaura acompanhada de seu irmão, o malfeitor Mano Cris se aproximarem da Variant. Mano Cris sentou o dedo e Lordinado virou peneira.
- Vacilão que faz filho na minha irmã e fica tirando onda e não assume, merece ir pro inferno!
Amanheceu e o silêncio e a tristeza vieram para aquele lugar. Curió ficou em silêncio para não cantar pra subir.
Senhorinha ficou refletindo olhando com lágrimas nos olhos a cena triste do corpo ensanguentado dentro da Variant. A maldade sopra nos ouvidos das pessoas sem compromisso com a verdade. A ilusão faz as pessoas crerem que são imortais. Senhorinha não quis mais ter ninguém. Somente arranjou um cachorro caramelo para lhe fazer companhia.
Edinaura continua fazendo apresentações nos bares e restaurantes das cidades e Mano Cris continua sendo o chefão da Comunidade do Gato Preto.
A vida continua, a maldade nesta vida continua...
( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)