Um Conto Bem Carioca.
_Dezembro é sempre quente e iluminado! Falei baixinho debruçando-me à janela apreciando as casas vizinhas. Estavam na maioria reformadas, caiadas e esbanjando energia elétrica. Não sei de onde vem inspiração para tanta ornamentação! E a cada ano uma novidade! Agora, além de piscarem correm tão rápidas que chega a dar a impressão de que vão romper as grades e fugir pras ruas. Nem bem começa o mês e lá vai, Miguel, de porta em porta arrecadar dinheiro para os fogos. Costuma brincar, dizendo que Copacabana ainda vai perder a grande fama pro nosso bairro. Imagina! Afonso era quem gostava de esbanjar nesta época. Possuía um talento invejável pras decorações natalinas. Descia caixas imensas do sótão e ia esticando dezenas de fios e luzes embaraçados. O ponto culminante era o tradicional Presépio, que fascinava a todos. Passava dias e noites, sem cansar, limpando e as engrenagens que faziam todos os personagens se moverem. Despois de montado e funcionando, bastava seu consentimento pra criançada do bairro fazer fila pra ver e posar pras fotos. Mas, tudo que é bom, dura pouco! Por infelicidade, Diniz, o turco, dono do mercadinho, desconfiado do aumento inexplicável de sua energia, pagou uns especialistas pra correr seus fios elétricos... Como diz o ditado; Quem procura, acha! “O gato” foi encontrado! Quase deu morte naquele Réveillon de 1998. Diniz, possuído de ódio, invadiu a casa de Afonso e fez um estrago geral. Num só golpe despachou pros ares os bichinhos do presépio. Santa Maria perdeu os braços acolhedores, José, as pernas e os três reis magos voaram pelos ares. Da pobre vaquinha só restou o rabo preso às grades do portão... Por graças o menino Jesus não sofreu danos. Antes que o Turco enlouquecido se atrevesse, o menino de Diva, apavorado, o arrebatou das palhas e correu em disparada rumo a Paróquia de São Roque. Afonso teve que ficar ausente por conta da multa e da justiça... E o bairro perdeu a melhor atração natalina que tinha. Aqui em casa, nem com sacanagem as coisas mudam. A gente raciona, economiza, se priva o ano inteiro, pra nada! As paredes permanecem desbotadas, os móveis ultrapassados prosseguem firmes afrontando meu bom humor diário... Sem mencionar que a velha árvore de natal “centenária”, como diz Mariana, e já tão depenada pelo tempo, não se aguenta de pé. Tento reclamar, mas Sampaio pega o rumo e some no mundo. O que me contenta a alma, ultimamente, é saber que ainda posso contar com linda festa que sua empresa oferece. Só isso basta pra satisfazer minha alma de prazer e fantasia! A festa é, de fato, um evento lindo e perfeito pra ninguém botar defeito. Principalmente pras minhas crianças. Touro mecânico, tobogã de piscina, cama elástica, jogos, brincadeiras e muito espaço livre pra correr. Há quinze anos, que não perco uma! Sem falar nas poses hilárias ao lado do Papai Noel que todo ano, infalivelmente, descia de helicóptero e surgia sorridente trazendo mais alegria e presentes... Presentes bons! E ainda hoje, entre uma foto e outra, agora digital, vou me esbaldando da fartura que se exibe, e ao mesmo tempo, apreciando e constatando as formas que o tempo vai tecendo em silencio nos olhares dos meus filhos. Agora que João e Mariana cresceram não querem mais nos acompanhar. Mas Sampaio faz questão de ir! Sua única preocupação é saber que a cerveja e os amigos vão estar lá. Homens! Chego a suspeitar, de que, ele nunca se deu conta do maravilhoso espetáculo que acontece. Ele passa todo o tempo ao lado da barraca, onde, ele, junto a outros leigos, se perde em conversas, bebendo até envergar o tronco, arder à coluna e por fim, me olhar suspirando de cansaço: _ “Vamos nessa, amor?!”
Marisa Rosa Cabral