E-mails não são cartas (3)
Jorges Barbosa <jorges.barbosa@recantodasletras.com>
13:10 (há 1 segundo)
para desconhecido@recantodasletras.com
nunca pensei que me responderia, suas respostas me intimidaram. talvez, agora eu entenda o seu silêncio. em qual molécula encontro a sua poesia? no oceano de seus olhos ou no deserto de suas terras? de qual continente você escreve? perguntas sempre são provocativas. acho que por um segundo tenha se esquecido disso. nunca me importei com all stars ou sabores novos. o meu lance era companhia, de quando os nossos corpos se fundiam na banalidade do simples, do continuum.
[mensagem editada]
senti o gosto de um sorvete que nem era o meu favorito, provei a bala de caramelo e até usei um all star. conheci o novo que me apresentasse. li os livros indicados, assisti aos filmes sugeridos. mas, já não estava aqui para saber. talvez, você nunca quisera me conhecer. juízos são perigosos, esperava que soubesse disso. honestidade sem responsabilidade é revolver engatilhado.
[digitando]...
preliminares? era ouvir como foi seu dia, escutar seu riso com bobagens, sentar no meio fio de uma rua qualquer só para ver o dia amanhecer. preliminares? era te amar em sua desarmonia, nos dias de melancolia, sentir bichinho de luz povoando o meu estômago. preliminares? era quando beijo encontrava nuca, quando respiração ficava ofegante.
pre-li-mi-na-res /é se/-pa-ra-ção si-lá-bi-ca, escansão poética.
[mensagem apagada]
se há desejo, por que não volta? por que não aceita? meu peito te espera aberto...atira. lança mão do medo, escreva, compõe melodia, faz arte. só não julgue, não machuque. se você sente? diga, ainda há tempo, não me fiz cativo, não encontrei outra boca, outros olhos que não os seus. ainda é minha obsessão em segredo. não desfiz o seu altar.
[mensagem não enviada]
tolice. estou ferido, não quero migalhas. quero banquete.
[armazenamento cheio]
que espaço?