E-mails não são cartas

Jorges Barbosa <jorges.barbosa@recantodasletras.com>

15:43 (há 15 minutos)

para desconhecido@recantodasletras.com

digitando…

aquele dia, na mesa do bar com minhas amigas, eu te esperava, olhava para tela do celular de minuto em minuto. não iria te chamar, porque já fui o emocionado e tinha medo de parecer assim novamente, esperei que se auto convidasse. às 18h postei um storie no close friends do insta e você viu. curtida.

[mensagem apagada]

minha amiga tirou uma foto nossa, disse que seria nossa paparazzi, “olha essa foto aqui”. a resposta: “legal”. ficou um eco na minha cabeça. legal…gal…al. as pernas entrecruzadas, o beijo sabor lucky strike, cerveja barata, olhos, mãos. mas, você parecia distante. acho que era ainda sobre a noite anterior, quando me disse que iria…

[mensagem apagada]

hoje faz quarenta e oito dias que não conversamos, eu não te contei, mas vi um tuíte seu se declarando para outro. talvez, eu seja mesmo paranoico, ainda não te esqueci. lembro da chamada de vídeo, da ligação às 3h da manhã dizendo que te amava, era e estava frio. por que alimentou? excluí seu número, bloqueei no insta, por isso, jogo veneno todos os dias em meu coração para que morra o amor e nasça a erva daninha. tenho seu e-mail salvo e torço para que esqueça a senha, assim essa mensagem jamais chegará até você. fui escape, eu não significava nada pra ti, era conveniente me manter, ser passatempo na sua solidão. eu tentei fugir e tu voltava. quando beijávamos, sentia o enrijecer dos nervos, o calor que vinha e molhava os lábios, as cochas…eu te odeio.

digitando

…

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[mensagem apagada]

ontem transei com um cara, mas só pensava na nossa foda. lembrei da noite de vinho e massas, tudo era tinto até quando me botava de quatro. duas feras se devorando, despindo a nudez da melancolia, da expressão noturna da alma, parecia algum conto de edgar allan poe, você era o corvo que insitia em bater na porta. nunca mais.

mensagem enviada!