DÚVIDA AFLITIVA
DÚVIDA AFLITIVA
Nota: Em homenagem ao aniversário de Marcos Jácome, acabei de criar um mini conto, lembrando uma passagem da nossa vida à época de estudantes de filosofia na gloriosa e amada João Pessoa: 👇👇
Dois grandes amigos que se conheceram na faculdade, fazendo um curso nunca antes planejado nas suas vidas juvenis. Um deles, mais velho, se achava com maturidade suficiente para ensinar certas lições de vida ao ¨neófito¨ amigo de filosofia, ciências e letras. Estavam juntos na sua residência.
Um terceiro, recém proscrito do seminário católico, completava esse terrível trio de bandoleiros do conhecimento, terror dos professores medíocres e charlatões. Neste dia, não se encontrava com os dois em seus costumeiros encontros para jogar filosofia fora.
Em certo momento, precisando sair, o candidato a ancião convidou o amigo para irem juntos cumprir a faina doméstica determinada pela ¨patroa¨ dele.
- Me acompanha Marcius Jacó?
- Sim, quero continuar te explicando o porquê d´eu achar Platão mais fundamental que Aristóteles na história da filosofia, como defende Vilberto Rangel.
Marcão, o filósofo, como era conhecido entre eles, concordou indolentemente, como se achasse tudo aquilo uma discussão inócua.
Subitamente, ao dobrar seu Gol BX na rua que desembocava na Epitácio Pessoa , onde ficava o supermercado, deram de cara com uma linda mulher, alta, deslumbrante, de corpo quase perfeito, com gestual extremamente feminino e sensual.
Remanescente de uma família reconhecida pelos componentes do sexo masculino serem excrachadamente raparigueiros, Marcão logo se animou e chamou a atenção de Marcius Jacó:
- Rapaz, que bela potranca.
Marcius, bem casado e mais comedido pra essas coisas das paixões de momento, retrucou de imediato:
- Calma Marcão, é um travesti.
Pronto. Foi mote pra mais um debate intelectual e... banal.
É. Não é. É. Não é. Assim ficaram por algum tempo até que Jacó decidiu:
- Só tem um jeito de saber... vamos perguntar.
E assim foi. Marcão engatou a segunda e com toda cautela encostou perto da sua diva.
- Desculpe lhe abordar dessa forma, mas gostaríamos de esclarecer uma dúvida que só você pode elucidar.
Num gestual delicado, suave, porém firme, a donzela respondeu com uma voz agridoce:
- Pois não meus amores.
Já assustado, Marcão quase engasgado conseguiu grunhir:
- Você é Mulher?
Com um sorriso maroto e malicioso, numa voz ligeiramente mais grossa, saída duma garganta cujo pescoço longo deixava à mostra um gogó razoável, respondeu calmamente:
- ADIVINHA.
Três segundos depois, Marcão, com os olhos esbugalhados, já se encontrava na Epitácio Pessoa, tendo que aguentar as gargalhadas de Jacó, que ainda contou o acontecido pra Vilberto.
Dizem à boca pequena que, até hoje, fazem galhofa com o pobre do Marcão.
Marco Antônio Abreu Florentino
https://youtu.be/KAnrezz0zs0
(Eu Hoje Vou Me Dar Bem - Piu Piu de Marapendi)