Alguns clientes da noite

Mais uma noite chegando ao fim. Estou cansado e, diferente das outras noites, mais estressado que o habitual. 

De início um cliente que terminou com a namorada. Mandou pra ela um sushi.

- Pra sua ex? - perguntei.

- Sim.

- Mas pra quê?

- Sei lá, ela é uma piranha. Se filmou jogando o suchi no lixo e disse assim "olha o que eu faço com esse suchi".

- Mas por que você mandou suchi pra sua ex?

Silêncio. 

- No lugar dela eu teria feito a mesma coisa pra você deixar de ser otário. Mas fazer o que se você gosta dela. Cada gesto seu será uma forma de tentar reatar. Agora ela querer isso está me parecendo algo nem perto de acontecer. 

Sem dizer muito ele se salvou de explicar o inexplicável quando um amigo seu chegou.

Conversaram entre eles.

Enquanto isso chega um rapaz moreno usando uma bermuda clara e camisa marrom.

Estava bêbado e destoando dos outros que vestiam as usuais calças jeans e camisas pretas. A variação é a marca.

Ele me olhou e eu já entendi o que viria. Falou de rock. Disse que Red Hot é melhor que Deep Purple.

Quase expulsei ele, mas pensei no dinheiro.

- E Offspring você gosta?

- Sim.

- Os melhores rocks são de 80 pra cá. 

Eu ia expulsar ele com certeza depois dessa. Mas ele disse que ia embora e eu agradeci a preferência por comprar comigo.

Trabalhar na noite tem dessas coisas.

Chega o trio. Três meninas. Uma vestida como uma gótica, a outra de projeto de dama fatal e a terceira como se nem soubesse o que estava fazendo com elas. 

Pediram água. Decisão inteligente. Ainda que aumente o risco de vomitar, hidratar o corpo é o melhor caminho, na minha opinião, para se recuperar. 

- A noite só está começando, moço. - disse a gótica.

- Com certeza! - concordou a projeto de dama fatal.

- Preciso responder o meu ficante - complementou a última deixando todos nós meio perdidos da conversa.

Água, amendoim, trident. Não sei como isso pode ajudar, mas ajuda segundo elas.

E foram embora.

Então chega a moça que vende bebidas pela quinta vez pedindo para eu adicionar um contato no WhatsApp dela.

Depois que resolvi o problema ela me mostrou a foto da filha elogiando a beleza dela e querendo deixar claro que ela estaria aqui no RJ para o show da Madonna. 

Grandes merdas, pensei. 

Mas de todos o último foi o cliente, se eu puder chamá-lo assim, mais surreal.

Enquanto eu contabilizava o caixa chega um rapaz de bermuda cinza e camisa azul e alguma outra cor que não soube identificar, mas arrisco dizer que era de algum tom de rosa.

- Te dou $1000 pra você me comer.

A pergunta foi tão surreal que eu demorei a processar. Dinheiro para sexo? Ele está me oferecendo dinheiro pra transar com ele?

Achei que seria menos constrangedor para ambos que eu fingisse não ter ouvido nada. Me concentrei em devolver o troco ignorando completamente a pergunta.

O proposta indecente saiu.

Continuei fechando o meu caixa.

Ele voltou. Dessa vez adotando uma estratégia de aproximação mais incisiva que não requeresse uma interação prévia ele se apoiou na grandes do prédio que fica a minha frente. De costas para mim começou a rebolar, descendo e subindo.

Pensei que mal eu fiz a Deus.

Chegou um taxista. De alguma forma o proposta indecente se assustou e saiu.

- Tem Coca?- perguntou o taxista.

Eu estava fechando o caixa, inferno!

- Tem sim. 

Ele perguntou o preço, pagou e levou.

Refiz a porra da conta.

Baixei as portas.

Fui embora.

John Raskólnikov
Enviado por John Raskólnikov em 27/04/2024
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