SABEDORIA DO CABOCLINHO

Como de costume, no passamento de noite de uma pessoa muito querida que faleceu no bairro, os senhores de mais idade contavam seus causos tendo por finalidade primeira espantar o sono e por conseguinte, manter viva a tradição e fazer memória dos causos da redondeza, contados pelos sues antepassados.

Alguns dos causos eram experiências vivenciadas por eles outros eram apenas relatos das estórias de seus antepassados, contados à taipa do fogão de lenha ou a luz de uma lamparina de querosene dependurada numa varanda ou em momentos como este. Nestas rodas de prosas o que não faltavam eram os causos de assombração, cada um mais horripilante do que o outro.

De certa feita, um dos contadores de causos a terminar sua narrativa, foi interpelado por um senhor, que a muito havia mudado para a cidade grande e deixado de lado suas raízes, que ocasionalmente estava presente no guardamento, questionando sobre o fato de não existir mais lobisomem, Saci Pererê, mula sem cabeça e tantos outros entes do imaginário popular e que povoavam a mente do rude sertanejo e que fazia parte de seu ser.

Os contadores de causos entreolharam e ficaram sem resposta, foi quando um caboclinho, matuto do lugarejo, que ouvia tudo calado, depois do breve silencio por parte dos proseadores, respondeu categoricamente:

_____ Oia seu moço, tive cá pensando com meus butões, tarveiz seja pro mode de não tê mais matas preles se escondê, todos precisaram ir simbora, vice!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 17/04/2024
Código do texto: T8044045
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