SORTUDO

Pé rapado, nanico, zé ninguém

O apelido que Francisco recebia dos colegas da escola e da vizinhança.

Bom aluno, péssimo no futebol, gostava de pescar e soltar pipas.

Sempre solitário.

Achou na rua um volante de loteria preenchido, porém o apostador deve tê-lo perdido.

Francisco tinha no bolso alguns trocados, resolveu arriscar. Fez o jogo. Esqueceu que havia jogado; não tinha esse hábito.

Passou pela casa lotérica e viu uma faixa pendurada na parede anunciando que a aposta lá vendida foi premiada. Um bom dinheiro.

Francisco se lembrou do jogo feito e resolveu conferir. Sua aposta levou o prêmio.

Contou para o pai, a mãe e a irmã. Mantiveram segredo.

Aos poucos, a casa simples foi sendo melhorada, o pai ampliou o mercadinho, a mãe montou um salão de beleza, a irmã ganhou roupas novas e uma linda mochila para a escola. Francisco manteve sua rotina de escola e pescaria. Abandonou as pipas.

A irmã, quando as amiguinhas perguntaram o porquê de tantas melhorias, deixou escapar o prêmio da loteria; mentiu ao dizer que seu pai foi o premiado.

O bairro todo ficou sabedor e o assédio começou.

Francisco deixou de ser um pé rapado, nanico e zé ninguém. Virou um amigo de infância ...

A família decidiu mudar de cidade e estado.