O ZÉ MENTIROSO

Existiu lá no interior do estadão das Minas Gerais, um homem, um tal Zé Mentiroso.

Ele era um caso realmente perdido.

Tudo o que ele falava sempre era mentira, e ele tentava sustentar suas mentiras a qualquer custo, dizendo que as coisas que falavam, sempre tinham fundamentos.

Tudo o que ele falava era a mais verdadeira mentira, ele ganhava do Pedro Malazarte e de longe, só pra você ter uma ideia de como ele mentia!

Aliás, ale chegou a ganhar um concurso mundial de mentiras, até de um alemão que foi considerado o homem mais mentiroso do planeta! Um tal Barão de MANCHHAUSEN! O nosso amigo alemão teve se contentar com o lugar de vice-campeão de mentiras!

E o Zé que já era mentiroso agora ficou muito mais famoso ainda, ele de fato era conhecido como realmente o homem mais mentiroso de Minas.

Ah! Mas na verdade, ele não era bem mineiro, por que se você não sabe, em Minas, não contamos mentiras, nós contamos casos, é claro! Não contamos as mentiras, por que são tantas que nem daria pra contar!

Na verdade, este sujeito era tão mentiroso que um dia ele saiu com um assunto estranho por lá dizendo que ouviu um político de Belo Horizonte dizer que se este fosse eleito, ele iria montar uma máquina de dissalinisar o sal da água do mar, para que os mineiros eleitores dele, não ficassem sem o benefício da água doce. Então ele disse ao político, - mas, senhor, aqui em Minas, não temos mar nenhum. E ele tacou de primeira, bobagem, amigo, se eu for eleito, eu vou desviar um braço do mar pra cá, pois você sabe que eu sou o único político mineiro honesto que cumpre com o que eu prometo!

Na verdade, este político não foi eleito, acho que as pessoas não botaram muita fé nesta promessa, me parece. Nós mineiros somos desconfiados de nascença. Mineiro é aquela pessoa que come pelas beiradas, sempre assim, dorme com um olho fechado e o outro aberto para assuntar o que está acontecendo em volta. Nunca dorme de botinas.

Ainda falando do Zé Mentiroso, outro dia ele esta falando umas coisas que até achei que tinha sentido, por exemplo, ele disse que tinha saído para caçar e era numa sexta feira santa, dia que as pessoas não comem carne de boi, de porco, ou outras carnes, a não ser de peixe. Mas ele contrariando tudo e a todos, pegou sua espingardinha pica-pau e saiu para os fundos da serra de Três Pontas e demorou um bom tempo até que ele voltasse com alguma caça. Então antes de anoitecer ele apareceu com um galo grande vermelho, debaixo do braço. Sua mulher a dona Zilza, lhe disse; Zé, o que você vai fazer com isso aí, homem?

Ele respondeu, ora, mulher, o que você acha que vou fazer, vou limpar ele e cozinhar e comer, ou você acha que eu trouxe isso pra brincar?

Ela então lhe disse; deixa isso pra amanhã, pois hoje é dia santo e você não pode fazer isso, se não você vai se arrepender escutou? Mas o Zé, era o Zé, nunca que ia escutar sua esposa. Ele nunca dava ouvido a ninguém, e não era agora que ele ia fazer isso, nunca!

Então, ele pegou aquele galo e uma panela bem cheia de água, esquentou e depois colocou o bicho lá dentro e começou a tirar as penas dele.

Depois ele colocou mais lenha no fogão e arrumou outra panela e quando ela estava fervendo e o galo estava limpo, ele jogou uns temperos dentro dela com galo picadinho e começou a cozinhar aquilo.

Bem, isso já eram umas sete horas da noite, ou seja. No entanto aquele galo não cozinhava, e ele foi ficando bravo, foi ficando bravo, e o galo não cozinhava, até que em fim, lá pela meia noite, ele decidiu comer o galo do jeito que ele estava mesmo.

Mas aí veio uma grande surpresa, quando ele abriu a panela, o galo estava inteirinho dentro dela, então ele saiu da panela ficou em pé sobre a tampa e começou a cantar a seguinte musica: “Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira... Rapaz, a pobre mulher do Zé Mentiroso, saio quebrando porta e depois correu para o terreiro, quebrando capim no peito, assustando toda a vizinhança, os cachorros começaram a uivar, as vacas começaram a mugir, olha, nunca tinha havido tamanha confusão naquele lugar. E o velho Zé Mentiroso, ainda assim quis acabar de cozinhar raio galo. Mas quando o pobre e velho galo viu que a coisa começou a ficar preta pra ele, quer dizer, não preta, por que segundo a ministra da, (da, do que ela é ministra mesmo? Me esqueci, desculpa, ta? Marina Silva, agora não podemos mais falar preta referindo as cores, ou se referindo a mais nada! Talvez, as coisas para o galo, ficaram sem visões, é claro, sem visões!

Mas o galo saiu correndo em disparada e falando que nunca tinha visto um homem de tamanha coragem e teimosia daquela, como ele!

E não ficou para ver o resto da coragem do Zé Mentiroso. Acho que se este galo tivesse ficado ali ele teria sido devorado por ele no dia seguinte! Segundo ele, isso foi acontecido com ele numa noite de semana santa, heim?

Outro dia ele estava dizendo que quando ele trabalhou em uma fazenda num lugar perto de Belo Horizonte, então ele avistou um ninho de urubu numa montanha muito distante. Ele pensou; Ah! Será que gosto deve ter um ovo de urubu? Um homem que estava trabalhando com ele lhe disse, olha, rapaz, você não vai me dizer que você vai atrás daquilo, vai?

Pois ele disse vou, e é agora mesmo. Então mesmo os homens lhes dizendo que não era para ele ir, pois ele foi! Então com muita dificuldade, tentando subir a qualquer custo nas pedras lisas da montanha, e ainda que estiva chovendo, ele com muito esforço acabou subindo até o ninho da pobre ave.

Assim ele com certo cuidado pegou uns ovos que tinha lá e colocou no bolso e desceu bem de vagarinho para não quebrá-los.

Depois ele levou aqueles ovos pra casa, ascendeu o fogo em seu terreiro e colocou uma lata com uma cera quantidade de água e pois os ovos pra cozinhar lá.

Olha, rapaz, ele colocou os ovos do urubu pra cozinhar era umas dez horas da manhã segundo ele. Então o negócio é que até à tardinha os ovos ainda não tinha cozido.

Assim de raiva e para não perder o tempo que ele gastou para buscar os ovos e ainda correndo perigo de morte por subir naquelas pedras molhadas e lisas, ele decidiu a comer o caldo dos ovos.

Você nem imagina o que deu nele naquela tardinha, segundo ele mesmo nos disse, foi o seguinte: -Olha, já que eu não pude comer os ovos, então pelo ao menos o caldo eu bebo desta coisa louca!

Bem aí já não sei se era os ovos a coisa louca, ou se era ele o próprio louco!

O problema é que aquele caldo lhe tacou uma dor de barriga, que ele passou uma semana sem poder ficar de pé de tanto que o intestino dele arruinou! E foi ele mesmo que me disse; eu não pude comer os ovos, mas pelo ao menos o caldo eu bebi, oras!

Outro dia um casal de amigos nosso estava trabalhando em seu roçado então passou o Zé Mentiroso por lá. O casal queria que ele lhes cotasse uma mentira e lhe pediu para ele contar algumas, como sempre. Então ele logo lhe disse que não podia contar nenhuma mentira por que ele havia ficado sabendo que um parente dele, do casal e amigo dele tinha ficado muito dente, e ele estava indo pra lá para visitar a família. Pois este parente dele estava nas últimas, em um hospital no Rio de Janeiro, e foi embora. Imediatamente este casal pegou as suas ferramentas e foi dar um jeito de ir visitar também este seu parente. Eles viajaram uns 150 quilômetros só para fazer esta viagem. Imagina a surpresa deles quando ele chagou lá, o seu parente estava trabalhando na fábrica de cerâmica! Foi um vexame só! Ainda que este parente lhe perguntou, mas quem foi que te falou que eu estava doente? Ele disse que tinha sido o Zé Mentiroso. Então ele lhes disse como você pode acreditar num homem deste?

Eu ainda falava com ele sobre estas mentiradas que ele sempre contava, mas ninguém nunca se preocupava demais com ele. Pois todo mundo sabia que ele era mesmo um fanfarrão!

Um dia ele estava passando e desta vez correndo para a casa de uma pessoa mais velha, então ele chegou lá e foi logo gritando pelos nomes das pessoas que moravam ali.

Sô João, dona Maria, Sá Gertrudes? Cadê todo mundo desta colônia? Cooorree todo mundo, pois a casa do sô António está em chamas? E eu ouvi o choro de uma criancinha vindo lá de dentro!

Bem, esta foi a ultima coisa que o Zé Mentiroso falou, pois como ele era o maior mentiroso do Brasil, ninguém lhe deu confiança. E logo veio a noticia de que dentro da casa do Sô Antônio, definitivamente, uma menina de dois anos de idade, tinha sido totalmente queimado impiedosamente pelas labaredas de fogo que tomou conta daquela velha casinha de pau-a-pic!

Bem, depois disso, o Zé Mentiroso, se mudou, e nunca mais foi visto nem em Minas, nem no Rio de Janeiro. Mas depois de muito tempo quando eu me mudei para o estado do Paraná, eu cheguei a ouvir alguém dizer que por lá andava um sujeito que gostava muito de queimar um capim verde de vez em quando, mas aí isto já uma história para um próximo conto!

Charlis
Enviado por Charlis em 08/01/2024
Reeditado em 09/01/2024
Código do texto: T7971491
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