Se as paredes falassem...

Certo dia, dois meninos chamados João e Pedro, foram passar uma semana na casa dos avós. E como a casa ficava longe, lá no interior, os netos chegaram de carro com os pais somente no final da tarde. Mas, foram bem recebidos com um delicioso jantar feito com o amor da vovó. O cheiro estava muito bom!

Não muito depois de terem acabado de jantar, os avós mandaram os netos irem para cama, com a promessa de que, se dormissem depressa, no outro dia, todos iriam sair para pescar de manhã bem cedinho. Porém, antes de todos dormirem, a avó estava sentada na cama onde o neto mais velho, João se acomodava para descansar.

- Ah, eu me alembro de quando a sua mãe e o tio de ocês dois dormiam nessas mesmas camas – recordava a avó com nostalgia – Ai, se as paredes falassem, quantas histórias contariam!

- até parece, vó! – disse João – onde já se ouviu uma parede falar?

- É, ele tem razão! – concordou Pedro, deitado na cama ao lado.

- Ué, se um homem já escreveu que ouviu estrelas falarem, porque as paredes não podem falar? – respondeu a avó com uma pergunta, que ficou solta no ar. E depois dos avós darem boa noite aos netos, todos foram dormir.

Na manhã seguinte, os avós acordaram antes que os netos e foram aprontar tudo para a pescaria. Por isso, eles entraram num cômodo da casa ao lado do quarto onde os meninos estavam. Era uma sala sem janelas que tinha só uma porta de entrada, que ficou bem desgastada com o tempo.

- Bem, acho que devíamos ter arrumado esse quarto antes dos meninos chegarem – disse a avó, enquanto ajudava o marido a pegar os equipamentos de pesca.

- É, concordo que esse véio armário de tranquera precisa de uma organizada. Mas, depois pensamos nisso. – falou o avó, segurando as varas de pescar – Bem, por favor, pode abrir a porta?

Quando a mulher puxou a porta para dentro, a maçaneta saiu nas mãos dela, e os dois ficaram presos na sala, dentro da própria casa, desesperados por ajuda.

Enquanto os avós gritavam por ajuda, o Pedrinho sentiu sede e foi para a cozinha beber água. Mal tinha saído do quarto e ouviu um grito com o som meio abafado:

- Socorro! Alguém, por favor, ajude a gente!

Pedrinho parou e olhou ao redor:

- Quem disse isso?

- Fui eu! Aqui do lado da porta! – Pedrinho olhou para a esquerda e não viu nada, a não ser a parede. Foi aí que ele se lembrou das palavras da avó na noite anterior e pensou: “Nossa, que legal! Está acontecendo mesmo! Eu estou conseguindo ouvir as paredes!”

- Ei, Pedrinho! É você? – disse a avó, olhando pela fechadura da porta – Eu não consigo te ver!

- Mas é claro que você não pode me ver, dona parede. – respondeu Pedrinho – A senhora tem ouvidos, e não olhos!

- O quê? Como é que é?

- Além disso, eu queria perguntar: Vocês conhecem a minha mãe?

- Sim, mas porque ocê perguntou isso?

- Será que vocês podem me contar uma história dela?

- O quê? Pedro, depois fazemos o que ocê quiser, tá? Agora, será que ocê pode chamar ajuda?

- Tá legal! Vou chamar um pedreiro!

- Pra quê?

- Ora, para ajudar vocês!

- Não, chama o seu irmão!

- Mas o meu irmão não é pedreiro!

- Não é isso! É para ele ajudar com a porta!

- Ué, a porta também fala?

Não adianta. A inocência e o fato de não poder enxergar através de objetos opacos impediam Pedrinho de ver que os seus avós precisavam de ajuda. Quem dera se ele tivesse o a visão de raio-x do Superman! (Cá só entre nós, que bom que ele não tinha super força! Os super heróis são inimigos jurados das paredes, porque eles saem quebrando tudo). Porém, para salvar o dia, apareceu o Joãozinho.

- O que você está fazendo aí, Pedrinho? – perguntou João.

- Eu estou falando com essa parede. – respondeu Pedro.

- Ah tá, tudo bem... Espera, o que você disse?

- Disse que estava conversando com essa parede.

- Não é possível.

- É sim. Ela até me pediu para chamar você para ajudar.

- Você ficou doido?

- Não, é verdade! Não é, dona parede?

- Pedro, nós não somos paredes! Somos os seus avós! Nós estamos presos aqui dentro e precisamos que ocês abram a porta!

Ao ouvir isso, Joãozinho imediatamente abriu a porta, de onde saíram os seus avós, que abraçaram, beijaram e agradeceram aos netos.

- Desculpa – lamentou Pedrinho – Eu pensei que as paredes estavam falando mesmo comigo, assim como a vovó disse.

- Tudo bem, fio. – disse o avô – Se eu tivesse consertado a maçaneta da porta, isso não teria acontecido, pra início de conversa.

- Nossa, quanta coisa aconteceu enquanto eu dormia! – falou João.

- É – consentiu a avó – Se as paredes falassem de verdade, com certeza teriam contado essa história.

E é claro que eu contei. Para as outras paredes, para as portas, as escadas, o chão e teto. Essa é a história mais popular e engraçada que existe entre nós! Atenção, humanos! Fiquem espertos: sua casa não tem pernas e nem mãos, mas têm ouvidos abertos!

Tiago Salpin
Enviado por Tiago Salpin em 05/01/2024
Reeditado em 05/01/2024
Código do texto: T7969332
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