A máquina de lavar dinheiro
Meu sobrinho Felipe Auriel Sodré de Medeiros Silva, o Lipinho, chegou aos seis anos de idade acreditando que a máquina de lavar roupas da sua mãe era capaz de fazer dinheiro.
Com quatro anos ele aprendeu a colocar roupas pra lavar, só pra pegar o dinheiro que encontrava dentro da máquina na hora de estender a roupa, e gastava tudo em chocolates e chicletes.
Um dia, a máquina parou de "fazer dinheiro". O avô dele disse que era defeito da máquina e com o tempo Lipinho esqueceu o assunto.
Eu estava lá quando o avô de Lipinho falou que a máquina devia estar com defeito, e falou piscando pra mim. Fiquei curioso, me contaram a história e fiquei sabendo que era tudo uma sacanagem do avô.
Como começou: quando Lipinho tinha quatro anos, Luís Antonio Sodré de Medeiros, o avô, começou a ir no cesto da roupa suja, colocava uma ou duas notas de 2, 5 ou 10 reais no bolso de uma das roupas do Lipinho. Quando alguém colocava as roupas na máquina, o avô ficava de olho no tempo e, assim que a máquina terminasse de centrifugar, dizia que iria estender a roupa pra secar, chamava o Lipinho pra ajudar, e invariavelmente o menino achava o dinheiro no fundo do tanque.
- Olha, vô, tem dinheiro aqui.
- É mesmo? Essa máquina é mágica, é capaz de fazer dinheiro.
- É mesmo, vô? Que legal...
- Pode ficar com o dinheiro. Quando a gente for no mercadinho você compra chocolate, pirulito, o que você quiser.
Por que Lipinho, aos 4, 5, 6 anos de idade, questionaria uma maravilha dessas? Para ele só podia ser verdade.
Um dia o avô esqueceu uma nota de 100 reais no bolso da sua camisa e Lipinho achou. O vovô teve muito trabalho pra convencer o menino a devolve-la.
Outro dia a família estava assistindo jornal na televisão e saiu a notícia da prisão dos doleiros que praticavam "lavagem de dinheiro". Lipinho ficou preocupado porque, na sua inocência, compreendeu que lavar dinheiro é crime e achou que podia ser preso também, porque o dinheiro que ele encontrava na máquina era lavado. Questionou o avô, perguntando se iriam ser presos, mas o esperto Luís Antonio explicou que se tratava de outro tipo de dinheiro lavado. A mãe do menino não entendeu a conversa, ia perguntar, mas alguém a chamou na cozinha e o fato passou batido.
Quando a mãe descobriu a fraude, mandou seu pai parar de mentir para o menino. O avô prometeu, mas tiveram que chegar num acordo de nunca contar a história toda pro Lipinho, afinal a fantasia e a confiança nos mais velhos fazem parte da saúde mental da criança. É como a história do Papai Noel, a criança tem que crescer acreditando e descobrir a verdade por si mesma o mais tarde possível.
Foi aí que o vovô gozador inventou a história da máquina com defeito.
Cada uma... !